Projeto utiliza arte como instrumento terapêutico para dar voz a gestantes e puérperas na região do Cariri

Publicado em 27/05/2020. Atualizado em 08/11/2022 às 17h04

Os momentos da gravidez e do puerpério trazem inúmeras mudanças e experiências para a mulher, que nem sempre são compreendidas por ela, por quem está perto e pela própria sociedade. Na busca por dar voz às mulheres da região do Cariri que passam por essa intensa transformação de vida, a Universidade Federal do Cariri (UFCA), por meio de estudantes e docentes da Faculdade de Medicina (Famed), iniciou este ano o projeto “A Arte de Partejar: a representação do parto por puérperas do Cariri Cearense”, ligado à Pró-Reitoria de Cultura (Procult).

O objetivo é estimular mulheres a expressarem através da arte – desenhos, pinturas, colagens, bordados, entre outras expressões – seus sentimentos sobre a gravidez, o parto, o puerpério e a maternidade, a fim de auxiliá-las a superar possíveis traumas, medos e desafios presentes nessas fases e também a relembrar momentos felizes que viveram nesses períodos. O projeto também pretende informar sobre a importância de uma assistência à saúde mais respeitosa, mais humana.

De acordo com a estudante Andrezza Maia, idealizadora da iniciativa, a ideia surgiu depois da experiência dela em aulas práticas em maternidades da região do Cariri. “Comecei a perceber que a assistência dada por muitos profissionais de saúde às mulheres era muito limitada, dificilmente se dava abertura para gestantes e puérperas expressarem suas dúvidas e o que estavam sentindo”, disse. Ao compartilhar com um grupo de amigos o desejo de desenvolver atividades com essa temática, e depois de estudar e pesquisar bastante sobre o tema, Andrezza identificou a importância das mulheres terem voz a partir de um instrumento terapêutico, como a arte. 

“Percebemos que mulheres que vivenciam experiências negativas durante a gestação e/ou parto e não recebem um apoio necessário têm mais chances de desenvolver distúrbios psicológicos no puerpério, como a Depressão Pós-Parto. Encontramos os benefícios da arte como instrumento terapêutico e, assim, com muita união e conversas, A Arte de Partejar foi surgindo”, explicou. 

Situação no Cariri

Andrezza reconhece que, na região do Cariri, as mulheres ainda aguardam a institucionalização de uma assistência à gestação humanizada e efetiva, que priorize a integralidade da saúde da mulher. Conforme a estudante, ainda são notificados casos de violência obstétrica, abusos na assistência ao parto e negligências, principalmente das unidades gestoras em saúde.

“Dessa forma, o projeto Arte de Partejar mostra-se necessário quando propõe um espaço humanizado de escuta, cuidado e atenção à mulher em um ambiente de maternidade, contribuindo não apenas para registrar a individualidade desse momento para cada participante da ação, mas também por atuar diretamente na realização de uma atenção integral à saúde da  mulher do Cariri”, ressaltou. 

Ações

O projeto conta com a coordenação e a orientação dos médicos ginecologistas e obstetras Patrícia Brayner e Tainã Brito e do residente em ginecologia e obstetrícia da UFCA José Neto. A coordenação discente é composta pelos acadêmicos de Medicina da UFCA Andrezza Maia, Jacyanne Vieira, Sarah Bacurau e Walisson Gomes. Também conta com mais três estudantes de Medicina da UFCA e duas do curso de Psicologia de outra universidade do Cariri. 

As ações centrais, de acordo com Andrezza Maia, serão realizadas no Hospital Maternidade São Lucas, em Juazeiro do Norte, e no Hospital São Vicente de Paulo, em Barbalha. “Vamos até os alojamentos, onde ficam mães e bebês, levaremos materiais para colorir e iremos incentivar as puérperas a expressarem através da arte seus sentimentos sobre o parto e sobre a sua gestação”, detalhou.

Além dessas atividades, o projeto também promoverá rodas de conversa na UFCA sobre temas relacionados à assistência ao parto e oficinas de capacitação sobre cuidados na gestação e puerpério. No fim do ano, existe a previsão de realizar a Primeira Exposição A Arte de Partejar com as artes feitas pelas puérperas ao longo do ano.

Covid-19

Nesse período de isolamento social, devido à pandemia da Covid-19, as ações presenciais ainda não iniciaram. No entanto, o grupo tem desenvolvido diversas atividades virtuais. Informações sobre cuidados com a saúde da gestante e puérpera, incluindo os cuidados relacionados ao coronavírus, estão sendo divulgados no perfil do projeto no Instagram, o @artedepartejar.ufca. Está em produção também cartilhas informativas. A primeira será sobre Parto Normal, com previsão de divulgação nas próximas semanas.

Além disso, o projeto tem promovido encontros online, chamado Círculos de Saberes, nos quais são debatidos temas relacionados à gestação e ao puerpério com o auxílio de profissionais convidados. Em julho, no formato online, será realizado o Primeiro Simpósio Caririense de Parto Normal.

Campanha “A Arte como Terapia”

Enquanto as atividades presenciais nas maternidades ainda não iniciaram, o projeto lançou a campanha “A Arte como Terapia”, que estimula mulheres a expressarem por meio da arte – desenhos, pinturas, colagens –  os sentimentos sobre a gravidez, o parto, o puerpério e  a maternidade. As artes comporão o acervo da Primeira Exposição A Arte de Partejar prevista para o fim do ano e, caso seja autorizado pela mulher, serão divulgadas no perfil oficial do projeto no Instagram.

As mulheres que desejarem participar podem enviar, para o direct do perfil no Instagram ou para o email artedepartejar@gmail.com, uma expressão artística que represente esses momentos marcantes da vida.

Serviço

Projeto “A Arte de Partejar: a representação do parto por puérperas do Cariri Cearense”
artedepartejar@gmail.com