Pesquisas desenvolvidas na UFCA apontam repercussões psicológicas, psiquiátricas e neuropsiquiátricas em profissionais de saúde e pacientes com Covid-19

Publicado em 04/12/2020. Atualizado em 08/11/2022 às 17h33

Foto: Wikimedia Commons

A pandemia do coronavírus exigiu, em todo o mundo, esforços diferenciados de pesquisadores para compreender as causas, os efeitos e os impactos gerados pela Covid-19 em diversas dimensões da vida. Na área da saúde, além do conhecimento sobre o vírus, as formas de infecção e o tratamento, avançou-se também no entendimento sobre os impactos psicológicos e psiquiátricos em profissionais de saúde que atuam diretamente na linha de frente de combate à doença e sobre as consequências psiquiátricas e neuropsiquiátricas em pacientes com Covid-19.

Na UFCA, professores e estudantes da Faculdade de Medicina (Famed/UFCA) desenvolveram três pesquisas que contribuíram com o progresso desse conhecimento sobre o vírus e foram publicadas nos últimos meses no periódico internacional Progress in Neuropsychopharmacology & Biological Psychiatry, com Fator de Impacto 4.361 e Qualis/Capes A1 (Link para uma nova página). De acordo com o professor Modesto Leite Rolim Neto, as pesquisas foram desenvolvidas no âmbito do grupo de pesquisa em Suicidiologia (Famed/UFCA), do qual é coordenador, com a participação de professores e estudantes. Contaram ainda com a parceria de pesquisadores de outros centros universitários locais.

Repercussões psiquiátricas e neuropsiquiátricas

A pesquisa mais recente, disponível desde novembro para consulta, tratou sobre as repercussões psiquiátricas e neuropsiquiátricas associadas a infecções severas de Covid-19 e outros coronavírus (Link para uma nova página).  Por meio do estudo de vários artigos sobre o tema, encontrados em plataformas mundiais de divulgação de pesquisas na área de medicina e saúde, os pesquisadores identificaram as principais repercussões psiquiátricas e neuropsiquiátricas que surgiram em pacientes que manifestaram casos graves da doença.

Depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e psicoses estão entre as repercussões psiquiátricas encontradas. Entre os sintomas neurológicos que podem ocorrer, os estudiosos identificaram delírio, complicações cardiovasculares, encefalopatia, distúrbios neuromusculares, anosmia (perda do sentido do olfato) e ageusia (perda do sentido do paladar). De acordo com os pesquisadores, essa manifestações podem ocorrer principalmente em pessoas do sexo feminino, profissionais de saúde, em que tem necrose vascular ou algum sofrimento psíquico.

Profissionais de saúde

Outras duas pesquisas se debruçaram a identificar efeitos psicológicos e psiquiátricos em profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à Covid-19, a partir de um levantamento de artigos sobre o tema. No primeiro, disponível desde o começo de agosto deste ano para consulta, os pesquisadores analisaram os níveis de sofrimento psicológico pelos quais o profissional de saúde tem passado durante a pandemia (Link para uma nova página). Identificaram que os profissionais de saúde têm níveis mais altos níveis de ansiedade, depressão e insônias comparado com profissionais de outras áreas.

A outra pesquisa, também disponível desde agosto, fez uma revisão sistemática de artigos que trataram sobre sintomas psiquiátricos em profissionais de saúde que trabalham diretamente com pacientes com Covid-19 (Link para uma nova página). O estudo identificou que profissionais de saúde atuando diretamente na luta contra o coronavírus estão sendo afetados de forma mais intensa por distúrbios psiquiátricos, associados com depressão, ansiedade, angústia e estresse, que outros grupos profissionais. Os pesquisadores encontraram alta incidência de traços de transtornos obsessivos-compulsivos e somatizações nos profissionais que atuam na linha de frente.

Importância dos estudos

O professor Modesto Rolim explica que as pesquisas contribuíram para o entendimento da doença em diversos aspectos. Além disso, os dados, principalmente sobre os profissionais de saúde, são fundamentais para desencadear debates e pensar soluções. “O SUS [Sistema Único de Saúde], com mais de 200 mil estabelecimentos de saúde (ambulatorial ou hospitalar), emprega diretamente mais de 3 milhões e 500 mil profissionais da saúde, sendo 2 milhões de médicos e profissionais que compõem a equipe de enfermagem. As repercussões psíquicas são inúmeras, desencadeando debates múltiplos sobre os resultados psiquiátricos que esses profissionais estão apresentando no combate à Covid-19”, comentou. 

Além da importância mundial e nacional, os estudos, segundo o professor, contribuem para gerar conhecimento nas áreas definidas pelo grupo de pesquisa em Suicidiologia da UFCA e também para desenvolver a pesquisa local. “Um momento de crise, como é o caso da Covid-19, também abrange uma oportunidade de união e de colaboração entre docentes e discentes com a sociedade. Num movimento coordenado com nossos pesquisadores, lançamos uma ampla frente de apoio para combater o coronavírus, por meio de inúmeras investigações publicadas nos mais importantes periódicos internacionais”, ressaltou.

Serviço

Faculdade de Medicina (Famed/UFCA)
famed@ufca.edu.br