Egressos da UFCA contam como Iniciação Científica foi decisiva na vida profissional

Publicado em 26/04/2022. Atualizado em 31/10/2022 às 15h24

Robson Roque, egresso do curso de Jornalismo da UFCA, no campus Juazeiro do Norte. Foto: Gabriela Meneses - Dcom/UFCA

Chegar à universidade é também descobrir um mundo de possibilidades. Na Universidade Federal do Cariri (UFCA), os estudantes podem se dedicar a projetos de Pesquisa, de Ensino, de Extensão, de Cultura e a outras atividades extracurriculares durante os anos de graduação. A atuação nesses espaços proporciona aos discentes, além de todo aprendizado, a possibilidade de encontrar um caminho para as escolhas futuras, após a saída da UFCA.

A cada quinzena, desde o dia 12 de abril de 2022, a série “Protagonismo Estudantil” traz conteúdos temáticos sobre experiências que podem enriquecer a passagem de estudantes pela graduação, aprofundando conhecimentos adquiridos nos respectivos cursos e até contribuindo para orientar novos rumos profissionais. Na primeira matéria da série, o foco foi na participação dos discentes nos Centros Acadêmicos (link para uma nova página).

A participação em projetos de iniciação científica para atuação no desenvolvimento de Pesquisas acadêmicas é o tema desta segunda matéria da série. Na UFCA, como em outras universidades, os estudantes podem se inserir nos projetos de pesquisas dos professores, contribuindo para o desenvolvimento da investigação em andamento e, ao mesmo tempo, aprendendo a conduzir uma pesquisa acadêmica, desde as escolhas teórico-metodológicas até a conclusão do estudo.

Essa atuação dos estudantes de graduação pode se dar por meio de atividades voluntárias em programas de iniciação científica ou de bolsas de iniciação científica, que giram em torno de R$ 400 reais/mês (valor do último edital de 2021) e têm duração de cerca de um ano. Na UFCA, esses programas de iniciação científica são gerenciados pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PRPI/UFCA). 

Atualmente, nas modalidades de bolsas pagas para estudantes de graduação, a UFCA conta com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), com financiamento pela própria Universidade, pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Atividades de pesquisa 

Uma Pesquisa acadêmica pode ser desenvolvida em qualquer área de conhecimento científico. Há estudantes que atuarão em laboratórios fechados, manejando substâncias químicas – como discentes do curso de Engenharia de Materiais. Há outros que terão como objeto de estudo de cidades, como é o caso de estudantes da Administração Pública. Existem ainda aqueles que se dedicarão a pesquisar dispositivos relacionados à sua área de atuação profissional, como é o caso dos estudantes de Jornalismo. 

Vidros e vidrocerâmicas com bioatividade

Julie Anne Pereira Cavalcante, egressa do curso de Engenharia de Materiais e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atuou como bolsista de Iniciação Científica no Laboratório de Cerâmicas do campus Juazeiro do Norte. O trabalho, desenvolvido por Julie Anne, estava dentro do projeto “Desenvolvimento de biovidros e vitrocerâmicas na Região do Cariri-CE, visando aplicações biomédicas”, da professora Francisca Maria Martins Pereira.

Julie Anne, no Laboratório de Cerâmica do campus Juazeiro do Norte, na época em que era bolsista de iniciação científica. Foto: Luyan Costa – Arquivo Dcom/UFCA

A parte dela nesse estudo tinha como objetivo principal desenvolver e caracterizar as vitrocerâmicas na região do Cariri cearense, obtidas do sistema SiO2-CaO-Na2O-P2O5 (sistema base da produção de biovidros e vitrocerâmicas), com diferentes graus de cristalização e com fases cristalinas presentes que melhorassem o desempenho mecânico do vidro original. Em outras palavras, o projeto tinha como propósito desenvolver vidros e vitrocerâmicas que tivessem bioatividade, ou seja, que funcionassem como biomateriais para usos futuros em implantes médicos.

Biomateriais são materiais que podem ser inseridos em organismos vivos, para, por exemplo, fazer a função de algum órgão ou sistema comprometido, sem reações adversas.

O trabalho rendeu frutos e apresentações dentro e fora da universidade. Uma delas foi a seleção para mostrar sua pesquisa de iniciação científica na Quinta Escola Avançada de Física Experimental, promovida pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2020 (link para uma nova página). Na ocasião, Julie Anne também teve a oportunidade de participar de outras atividades na instituição.

Pesquisando a cidade de Juazeiro do Norte

Em outras áreas de conhecimento, as atividades desenvolvidas não estão relacionadas ao manejo de produtos em laboratório nem à descoberta de produtos e substâncias. O território, a sociedade, as instituições ou as relações sociais são objetos de estudo dessas investigações que requerem métodos de trabalho científico diferentes. Egresso do curso de Administração Pública e Gestão Social oferecido pela UFCA, Geovane Gesteira atuou, nos últimos dois anos, em um projeto que tinha como foco a cidade de Juazeiro do Norte.

Geovane Gesteira (com uma placa na mão do lado direito) em uma das atividades que participou na época em que era estudante de graduação e bolsista. Foto: Arquivo pessoal

No projeto de Pesquisa “Planejamento urbano e territorial em Juazeiro do Norte: Repercussões e inter-relações na Região Metropolitana do Cariri” (2020-2022), do professor Diego Coelho (CCSA/UFCA), Geovane foi bolsista e voluntário, atuando com atividades diversas, com o restante da equipe. Ele teve contato com todo processo de Pesquisa no campo de Públicas, além de ter tido a oportunidade de manter interlocuções com outros pesquisadores da área e, assim, enriquecer sua experiência no aprendizado da Pesquisa. 

“Nos projetos de Pesquisa, desenvolveram-se análises documentais na legislação municipal; leituras e fichamentos de obras bibliográficas; sistematização e tratamento de dados qualitativos e quantitativos; escrita de artigos científicos; participação em eventos acadêmicos; formulação de questionários e roteiros de entrevistas; confecção de relatórios; participação em capacitações; além de inúmeras interlocuções com pesquisadores(as) inseridos(as) no campo de públicas e dos estudos urbanos”, citou. 

Midiatização da Fé

O egresso Robson Roque, do curso de Jornalismo, hoje jornalista e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC),  fez parte, na época da graduação, do projeto de Pesquisa “A midiatização da fé: ubiquidade comunicacional nas romarias de Juazeiro do Norte”, coordenado pelo professor Ivan Satuf. O principal objetivo era compreender como as tecnologias digitais móveis atuavam sobre a experiência religiosa contemporânea num contexto de midiatização. 

Robson, além de participar de encontros para discussões teóricas e metodológicas, participou da pesquisa de campo, desenvolvendo etnografia com romeiros em Juazeiro do Norte e em grupos virtuais no Facebook e no WhatsApp. De acordo com o egresso, o projeto de Iniciação Científica contribuiu para que ele tivesse, ainda na graduação, a base necessária para saber como projetos de Pesquisa são desenvolvidos na prática.

“O rigor com o qual a Pesquisa sobre midiatização da fé foi conduzida suscitou a importância a ser dada aos percursos metodológicos nas pesquisas que desenvolvi desde então (…) Todo o aprendizado nele foi levado como ensinamentos para o mestrado e, agora, no doutorado e demais pesquisas acadêmicas. Tanto é que os artigos acadêmicos que produzi no contexto do projeto de iniciação científica são, ainda hoje, os que mais circularam no meio acadêmico”, ressaltou o estudante.

Novas habilidades 

Essas novas habilidades aprendidas no desenvolvimento da Pesquisa, relatadas por Robson Roque, não estão restritas apenas ao andamento do estudo em si. Durante a participação no projeto, muitas vezes os estudantes têm a oportunidade de trabalhar com outros pesquisadores, de participar de apresentações em congressos, de organizar eventos científicos, de ter contato com diferentes espaços que enriquecerão sua experiência de vida. 

Atual estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Geovane ressalta a importância da participação nos projetos não só pela possibilidade acadêmica de produção de pesquisa ou de auxílio a encontrar os rumos profissionais, mas também pela chance de adquirir novos conhecimentos, valorizando todas as formas – os conhecimentos científicos e os populares –, e novas habilidades, como o diálogo e a cooperação. 

“(…) ao adentrar a universidade, vi que essa instituição e os seus pilares poderiam me ajudar a construir o mundo que tanto almejava. Portanto, dos projetos desenvolvidos ao longo da graduação ao mestrado, continuo a enxergar que as ciências podem e devem atuar para a edificação de um mundo mais justo e sustentável”, ressaltou. 

Influência nos rumos profissionais 

A egressa do curso de Engenharia de Materiais, Julie Anne, sempre pensou em trabalhar na indústria. No entanto, a vivência com Pesquisa mudou os rumos profissionais dela. “Inicialmente, visava a carreira industrial, como futura engenheira de materiais. Entretanto, com esse projeto [projeto de iniciação científica desenvolvido na graduação], minha visão mudou. Me apaixonei pela Pesquisa e pelas inúmeras possibilidades e oportunidades que ela pode nos trazer”, destacou. 

Um dos motivos para fazer mestrado veio da certeza de querer trabalhar com biomateriais poliméricos e a vontade de desenvolver algo com potencial de mudança na vida das pessoas. Os biomateriais poliméricos podem ser usados em diversos sistemas e tecidos, como próteses dentárias e stents de coração.

No mestrado que está em andamento, Julie Anne tem desenvolvido um sistema de adesivos para aplicações dermocosméticas, com microagulhas dissolvíveis de materiais biopoliméricos, para liberação controlada de fármacos. Ou seja, o medicamento vai ser entregue pela pele, por meio dos poros. A exemplo desse tipo de sistema, já existem os adesivos de nicotina e os adesivos para dores musculares.

O egresso do curso de Filosofia Guilherme Macedo Silva foi bolsista de iniciação científica durante praticamente todo o período que esteve na graduação. “Em 2017, conheci e fui fisgado pela obra de Michel Foucault. Daí em diante, até 2021, participei de quatro projetos de iniciação científica com a professora Regiane Collares, em que discutíamos o pensamento desse filósofo a partir de várias fases da sua obra e de outros comentadores”, explicou.

Guilherme Macedo, quando era estudante de graduação da UFCA, no campus Juazeiro do Norte.
Foto: Arquivo pessoal

Atualmente estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Guilherme conta que a escolha pela vida acadêmica está totalmente condicionada às atividades de Pesquisa que desempenhou durante o período de graduação na UFCA. “O próprio projeto de mestrado é resultado direto de textos pensados e escritos no grupo que compus. No meu entendimento, o fim da graduação só poderia ser pensado com um ingresso direto num programa de mestrado”, ressaltou.

Francisca Cinthia Oliveira Nascimento, egressa do curso de Biologia da UFCA, ingressou no mestrado em 2020, e a escolha teve relação direta com a participação dela como bolsista de iniciação científica no projeto “Formação inicial dialogando com a gestão escolar através do uso pedagógico das tecnologias favorecendo o desenvolvimento da aprendizagem significativa e colaborativa numa perspectiva interdisciplinar”, com a professora Iracema Pinho (IFE/UFCA).

Cinthia Oliveira (segurando placa do lado esquerdo), quando era estudante de graduação, recebendo menção honrosa em um dos encontros de Iniciação Científica da UFCA.
Foto: Arquivo pessoal

“Os projetos me fizeram perceber a importância do estudo e da Pesquisa no ‘fazer ciência’, e o mestrado e o doutorado se constituem em uma continuidade para fortalecer a ciência através da Pesquisa. (…) A minha inserção na Pesquisa acadêmica se deu justamente através das atividades desenvolvidas nos projeto”, disse. Atualmente, Cinthia é estudante do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Ela pretende, após a conclusão do mestrado, iniciar também o doutorado e seguir carreira acadêmica. 

Sonho de se tornar professor 

Graduado em História antes de ingressar na UFCA, o egresso Robson Roque entrou no curso de Jornalismo já com o sonho de se tornar professor. “Tracei algumas estratégias e uma delas foi me aproximar mais das pesquisas, até que surgiu a oportunidade de participar do projeto de iniciação científica. O projeto foi, sim, a base para dar sequência aos estudos no mestrado e no doutorado, visto que eu tive uma proximidade com as pesquisas acadêmicas de fato, na prática”, relatou. 

Robson, que também atuou como bolsista de Aprendizagem Prática (PAP) na Diretoria de Comunicação (Dcom/UFCA), leva os ensinamentos profissionais para a atuação como jornalista. Ele acredita que os estudantes precisam se cercar de atividades extracurriculares para enriquecer a caminhada acadêmica e despertar para a descoberta de temas de Pesquisa. “O próprio aluno pode sugerir a criação de tais projetos aos professores a partir de alguma demanda que ele ou ela identifiquem, fazendo valer, assim, seu protagonismo estudantil”, destacou.

Serviço

Diretoria de Comunicação
dcom@ufca.edu.br