“Não há democracia sem cultura democrática” diz historiador em Conferência sobre Democracia e Resistência no NE

Publicado em 05/11/2019. Atualizado em 31/10/2022 às 17h40

Foto: Saulo Mota - Dcom/UFCA

A Conferência Cultura, Democracia e Resistência no Nordeste foi a grande atração da noite de abertura do Primeiro Festival de Cultura da Universidade Federal do Cariri (UFCA), realizada nesta segunda-feira (4), no campus Juazeiro do Norte. Organizado pela Pró-Reitoria de Cultura da Universidade (Procult/UFCA), o evento ocorre até a próxima quinta-feira (7), em paralelo ao Segundo Colóquio Observatório Cariri. O Observatório Cariri é um grupo de pesquisa formado em 2014, em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), com o objetivo de compreender os fenômenos culturais no Cariri cearense e refletir sobre a Economia da Cultura na região.

Prestigiaram a abertura do evento a Vice-Reitora da UFCA, Laura Hévila, o Pró-Reitor de Cultura, Robson Almeida, e o Coordenador do Observatório Cariri, Ivan Satuf.

Por videoconferência, exibida no Auditório Beata Maria de Araújo, o historiador e professor Durval Muniz – atualmente professor visitante da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e docente dos Programas de Pós-Graduação em História das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE) e do Rio Grande do Norte (UFRN) – elencou fenômenos antidemocráticos em curso em diversas partes do mundo e também refletiu sobre a democracia no Brasil e na América Latina: “Com a vitória da esquerda na Argentina, com a nova vitória de Evo Morales na Bolívia, com a explosão popular no Chile, o governo do Brasil vem se tornando uma figura isolada na América Latina. Devemos ter cuidado para que isso não se reflita em atitudes autoritárias”, disse.

Conforme o professor, a constante ameaça à democracia só se extinguirá se as pessoas se identificarem com valores democráticos, no âmbito subjetivo. O problema, segundo ele, é que não há suficiente fomento a uma cultura democrática: “Nós temos que usar a cultura como resistência. Durante a ditadura de 1964, a resistência se deu pelas artes, pela literatura, pelo pensamento, e novamente a gente tem que fazer isso. Nós temos que pensar o papel que a cultura tem na manutenção da democracia, porque não há democracia sem cultura democrática, sem a produção de subjetividades democráticas. Um país que forma subjetividades autoritárias terá muita dificuldade de manter a democracia“, acredita.

Para Muniz, os ataques sofridos pela democracia nos últimos anos, não apenas no Brasil, são consequência da violência contra as instituições democráticas, como é o caso das universidades.  O professor, que coordena o Comitê da Área de História do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), exemplificou esse fenômeno recordando a criação do órgão: “O CNPq não foi criado pela esquerda. Foi criado pelo Almirante Álvaro Alberto. Foi criado por um homem militar, um homem da Marinha! Ele voltou da Segunda Guerra consciente do fosso que nos separava, por exemplo, dos Estados Unidos. Voltou preocupado com a nossa dependência tecnológica. De 1.200 funcionários, o CNPq está sendo reduzido a 350 funcionários. No orçamento do ano que vem, o CNPq terá zero recursos para fomento à pesquisa. Ora, o CNPq, sem fomento à pesquisa, perde a sua função”, critica.

O professor criticou ainda a tendência de exaltar o Nordeste como centro de resistência democrática no Brasil, ignorando as especificidades da região: “Esse discurso regionalista nos coloca sempre num lugar de subalternidade, é eivado de complexo de inferioridade. Não vamos cair nessa armadilha. O Nordeste não é homogêneo, em nenhum aspecto: nem social, nem cultural, nem do ponto de vista dos salários, nem do ponto de vista da paisagem, das posturas políticas. Há grupos de extrema direita no Nordeste. Resistência mesmo no Nordeste está nos corpos das pessoas pobres desta região”, afirmou.

 Programação

O Colóquio Observatório Cariri oferece ao público, nesta segunda edição, sete Grupos de Trabalho (GTs), que vão promover debates temáticos nas tardes de terça a quinta-feira. Os temas serão: Memória e Patrimônio; Práticas Educativas e Interculturalidade; Território e Cultura; Cultura e Saúde; Filosofia, Cidade e Audiovisual; Educação, Cultura e Transdisciplinaridade; Literatura e Narrativas. Especificamente este último será na noite de quarta-feira (6), às 19h, na sala 102 do Bloco K do campus Juazeiro do Norte.

Logo mais, às 19h desta terça-feira (5), o Observatório apresentará as suas três pesquisas em andamento.  O encontro será no Auditório Bárbara de Alencar.

Já o Festival de Cultura da UFCA promove oficinas, mesas-redondas e apresentações em diferentes linguagens artísticas, com destaque para o lançamento da revista Baldio 5, amanhã (6), no pátio do campus Juazeiro, a partir das 18h. Na noite de quinta-feira (7), o evento vai promover show gratuito, no estacionamento do campus, com as bandas Na Base da Chinela, Madalena Vinil, Cômodo Marfim e Navidon. Acesse a programação completa.

Serviço

Pró-Reitoria de Cultura (Procult/UFCA)
Sala 204, Bloco I – campus Juazeiro do Norte
(88) 3221.9245
procult@ufca.edu.br

Observatório Cariri de Políticas e Práticas Culturais
Coordenador: prof. Ivan Satuf
ivan.satuf@ufca.edu.br