Engenharia de Materiais é tema de novo conteúdo da série especial de 15 anos de quatro graduações da UFCA
Publicado em 07/07/2025. Atualizado em 08/07/2025 às 10h49

Nomear períodos extensos da história humana como Idade da Pedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro e Idade do Aço ilustra a importância do uso dos materiais na vida coletiva de seres humanos. Pedra, bronze, ferro e aço são materiais que fabricaram (e ainda fabricam) ferramentas para diferentes usos, considerados fatores como eficácia, durabilidade e oferta na natureza.
Compreender como os materiais podem nos ajudar no dia a dia fez toda a diferença não só para a Humanidade atingir os níveis tecnológicos contemporâneos, mas para ela ter sobrevivido a intempéries e predadores e, consequentemente, alcançar uma população superior a 8 bilhões de pessoas, atualmente.
O curso de engenharia de materiais da atual Universidade Federal do Cariri (UFCA) é tema deste novo conteúdo da série especial sobre os 15 anos de quatro cursos da universidade, cujas aulas iniciaram em 2010: música, jornalismo, design e engenharia de materiais.
A série, produzida pela Diretoria de Comunicação (Dcom/UFCA), reúne depoimentos, fotos e registros da trajetória desses quatro cursos, em conteúdos multimídia, a serem publicados durante o ano de 2025.
Engenharia de Materiais substituiu criação de Engenharia Mecânica
Na região do Cariri, que já contava com a presença da Universidade Federal do Ceará (UFC) desde 2001 (ver Interiorização da UFC e criação da UFCA), surgiu uma oportunidade de aumento da oferta de cursos de graduação com o chamado Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). O Reuni oferecia recursos do governo federal para que as instituições federais de ensino superior expandissem o número de graduações e de vagas ofertadas.
Conforme Antônio Miranda, professor aposentado da UFC e diretor do campus Cariri da instituição, entre 2007 e 2008, o Reuni indicava, na época, quantos cursos cada instituição de ensino deveria criar para acessar os possíveis recursos: “A distribuição de cursos entre os campi, no entanto, cabia a cada instituição. O Reuni também orientava que as instituições oferecessem cursos de menor duração, como os cursos tecnológicos, para formar o máximo de pessoas possível, no menor tempo”, recorda.

Ainda de acordo com o docente, a orientação inicial dada ao campus Cariri foi a de que o trabalho de planejar quais cursos o campus passaria a oferecer ficaria a cargo da Reitoria, em Fortaleza. Com a proximidade do fim do prazo para adesão ao Reuni, no entanto, foi demandado ao próprio campus que providenciasse o necessário para a indicação dos novos cursos.
“Tudo aconteceu em uma semana. O professor Jeová Torres e o professor Rogério Maciel fizeram um levantamento, no Cariri, junto a escolas públicas e a colégios particulares, para saber que cursos superiores os estudantes desejavam fazer. Eu me reuni com instituições de ensino superior da região, com o Sesi, com lideranças políticas, empresários, pesquisadores… Foi uma semana intensa de trabalho”, afirma Antônio.
Segundo Marcelo Santiago – docente da área de química que se tornaria o primeiro coordenador do curso de engenharia de materiais da UFC campus Cariri –, depois desses levantamentos, ainda no ano de 2008, houve uma nova reunião, com servidores da universidade, para apresentação de propostas para a implantação de cursos.
“Então, fez-se uma votação. Pelo que me lembro, foram selecionados os cursos de design de produto (indicação feita na reunião com o setor industrial), de jornalismo (indicação feita por servidores) e de engenharia mecânica (indicação feita por servidores). Na reunião do conselho do campus, que homologou a indicação feita nas reuniões, houve a indicação da adição do curso de música, apresentada pela professora Izaíra Silvino, sendo aprovada”, recorda Marcelo.
Professor Marcelo Santiago (à esquerda, com camisa listrada), durante inauguração do escritório da UFCA em Icó, em abril de 2014. À direita, no ano de 2022. Fotos: Acervo Dcom/UFCA
Conforme Marcelo, apesar de originalmente o curso de engenharia mecânica ter sido indicado para criação, houve uma mudança de planos que culminou na proposta de criação do curso de engenharia de materiais.
“Havia a intenção inicial de ser criado o curso de engenharia mecânica, todavia, a questão de orçamento falou mais alto e prevaleceu a opção pela engenharia de materiais. O custo de implantação de um curso de engenharia mecânica foi avaliado como muito elevado”, detalha Ricardo Ness, que era vice-diretor do campus Cariri da UFC e assumiu a direção após a gestão de Antônio Miranda, em outubro de 2008.

De acordo com o engenheiro mecânico Carlos Marley de Souza, um dos primeiros docentes do curso de engenharia de materiais da UFCA, a graduação em engenharia mecânica foca em sistemas mecânicos, desde o projeto à fabricação e manutenção: “Na engenharia de materiais, estuda-se e desenvolvem-se materiais com base na sua estrutura, propriedades e seu processamento, bem como o melhoramento dos materiais já conhecidos”, disse.
As graduações em engenharia de materiais e em engenharia mecânica têm muitos pontos comuns, mas diferem quanto à finalidade. Enquanto a engenharia de materiais é abrangente e estuda diversos materiais, em diferentes contextos e aplicabilidades, a engenharia mecânica se vale desses estudos para criar máquinas ou sistemas mecânicos capazes de realizar tarefas específicas. Ambas, no entanto, são formações voltadas principalmente para a indústria.
Conforme André Wesley Rodrigues, que tomou posse como docente de materiais no mesmo dia de Carlos Marley, a criação do curso na então UFC campus Cariri se deu, principalmente, pelo fato de o Cariri ser uma região muito industrializada: “Então, nós éramos naquele momento o terceiro polo calçadista do país, o segundo polo na galvanoplastia, ou seja, naqueles folheados de ouro, além de outras indústrias [estarem presentes na região]. Então, nós temos um polo industrial aqui muito promissor”, detalha André.
Para Marcelo Santiago, fora o destaque na galvanoplastia e no setor calçadista, o Cariri se destacava, à época de criação do curso, também com a produção da pedra cariri, nas cidades de Santana do Cariri e de Nova Olinda, e com a cerâmica vermelha, no município do Crato.
“Além disso, existem algumas empresas que compõem a área de metalurgia (metais) e de embalagens (polímeros). Esperava-se assim que a implantação do curso de engenharia de materiais pudesse vislumbrar um aumento da tecnologia usada por essas indústrias, trazendo inovação e aumento de competitividade”, disse Marcelo.
Primeiro PPC
A engenheira de materiais Vilma Sudério – que foi professora do campus Cariri e vice-diretora durante parte da gestão de Ricardo Ness – ministrava aulas no curso de engenharia civil na região quando começaram os debates sobre quais novos cursos o campus deveria oferecer, com a oportunidade do Reuni.
Coube à Vilma e a Marcelo Santiago a dedicação à escrita do primeiro Projeto Pedagógico de Curso (PPC) da nova formação. Isso se deveu, principalmente, ao fato de que os quatro primeiros professores concursados especificamente para o curso de engenharia de materiais só foram convocados para seus postos pouco antes do início das aulas, em 2010. O curso precisava de um PPC antes disso.
“A principal contribuição do curso de engenharia de materiais para o desenvolvimento de uma região está na sua capacidade de impulsionar a inovação, de promover a competitividade e de gerar empregos qualificados, através do desenvolvimento de novos materiais/novos processos de produção e da otimização do uso de materiais existentes”, reflete Vilma. Para ela, o estudo de materiais também se estende ao controle das condições ambientais e ao desenvolvimento de tecnologias limpas.
Vilma já havia sido redistribuída para a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) quando começaram as aulas do curso de engenharia de materiais da UFC Cariri, no início de 2010. Ela também atuou ativamente para a criação do curso de jornalismo no Cariri, implantado no mesmo ano.
Breve Histórico da Engenharia de Materiais no Brasil
O primeiro curso de engenharia de materiais do Brasil, que também foi o primeiro da América Latina, foi criado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 1970. Antes disso, em termos de qualificação acadêmica na área de materiais, existia no Brasil apenas um curso de pós-graduação em ciência de materiais, no Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro.
Conforme o PPC do curso de engenharia de materiais da UFSCar, a ciência e engenharia de materiais constituíram-se, apenas nas últimas décadas do século 20, em uma área de conhecimento e em um campo de atuação profissional.
“A segunda metade do século XX foi marcada por intenso avanço tecnológico e pelo desenvolvimento e implantação de grandes projetos de alta tecnologia, com a utilização comercial da energia nuclear, da eletrônica e da microeletrônica, resultando na conquista do espaço e na implantação dos sistemas de comunicação via satélite. Esses grandes projetos viabilizaram as grandes transformações que hoje vivemos”, explana o PPC da UFSCar.
Primeiros professores
Ana Cândida Prado, docente da UFCA nascida no estado de São Paulo, optou por cursar engenharia de materiais na UFSCar, nos anos 1990, após refletir sobre que graduações poderiam unir suas disciplinas favoritas da época, que eram química, física, matemática e biologia. Ela pensava em alguma engenharia, mas não imaginava que havia alguma que poderia incluir biologia em seus estudos.
“Minha mãe fazia mestrado em química na USP, em São Carlos, e eu fui com ela um dia até o campus. Conversando com um professor de lá, ele me indicou: ‘Por que você não faz engenharia de materiais? Lá, você pode trabalhar com biomateriais’. Acabou que eu nunca trabalhei com biomateriais, mas, a cada dia, eu tenho mais certeza de que eu gosto muito dessa área [engenharia de materiais], que possibilita você trabalhar com diversas profissões”, relata Ana Cândida.
Foto: Davi Moreira – Dcom/UFCA
Além de Ana Cândida, de Carlos Marley e de André Wesley Rodrigues, fez parte do primeiro grupo de professores do curso de engenharia de materiais da UFC Cariri a engenheira química Caroline Gonçalves, atualmente procuradora institucional da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFCA).
Professora Ana Cândida (à esquerda, com mão no queixo) e professor Carlos Marley (assinando), no dia da posse como docentes do curso de engenharia de materiais da UFC campus Cariri, em 2010. À direita, professor Carlos Marley e professor André Wesley (de camisa azul). Foto: acervo pessoal
Primeiros professores do curso de engenharia de materiais da UFCA. Da esquerda para a direita: André Wesley Rodrigues, Caroline Gonçalves e Carlos Marley de Souza (atual coordenador). Fotos Davi Moreira – Dcom/UFCA
Primeira mulher da turma
“O meu primeiro dia de aula foi em fevereiro de 2010. Tivemos o privilégio de dividir as salas de aula com o curso de música e, assim, nós estudávamos ouvindo os ensaios do pessoal da música. Isso era muito legal”, recorda Ângela Menezes, egressa da primeira turma do curso de engenharia de materiais da UFCA, hoje docente na área, em uma universidade particular no estado de Pernambuco.
Na época, o ingresso nos cursos oferecidos pela UFC se dava por vestibular, em vez da atual forma via Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com uso da nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Os cursos, quando preenchiam o total de vagas oferecidas, organizavam uma lista de espera. Eventualmente, candidatos na lista de espera de um curso poderiam migrar para outra graduação, se o curso de destino tivesse alguma afinidade com o curso originalmente escolhido pelo candidato e já não houvesse candidatos para chamar.
No seu primeiro dia de aula no curso de engenharia de materiais, Ângela era a única mulher da turma. Natural de Mauriti-CE, a engenheira conta que ingressou no curso de materiais por estar na lista de espera por uma vaga no curso de engenharia civil. Meses depois, outra mulher, Ana Lígia Sampaio, iria ingressar na turma, pelo mesmo mecanismo.
“Quando eu me inscrevi no vestibular, não vi sequer que havia o curso de engenharia de materiais. Eu me inscrevi em engenharia civil. Fiz a segunda fase e fiquei nos classificáveis. Nem todos os candidatos de engenharia de materiais haviam passado na segunda fase e, com isso, [a UFC campus Cariri] começou a convocar os interessados de engenharia civil. Então, eu entrei em materiais, mas o meu objetivo era ingressar na civil”, detalha.
Engenheira de materiais Ângela Menezes, egressa da UFCA. À esquerda, em 2024, e à direita, em sua colação de grau, em março de 2016.
Fotos: Davi Moreira e Gabriel Souza – Dcom/UFCA
A manobra de ingressar no curso de engenharia de materiais para, posteriormente, tentar uma mudança de curso para a engenharia civil é conhecida por boa parte do corpo discente de materiais da UFCA, principalmente porque existem várias disciplinas comuns aos dois cursos. No caso de Ângela, no entanto, não foi preciso muito tempo para que ela desistisse da troca.
“Com o passar do tempo, cursando as disciplinas do primeiro semestre, eu fiquei encantada com o curso e falei para o meu pai que não iria mais mudar de curso. [Fiquei encantada por] conhecer toda a ciência por trás, conhecer os materiais, como são obtidos, como processar… A química de materiais foi que despertou isso em mim”, relembra.
Para professora Ana Cândida, este é um fenômeno comum, não só na UFCA: “Em qualquer curso de engenharia de materiais do Brasil, existe alguma dificuldade em entender o que é o curso. Depois é que você se apaixona”, diz.
De acordo com Ângela, o curso de engenharia de materiais é desafiador, com disciplinas densas e carga horária elevada. Isso, conforme a engenheira, dificultava o deslocamento diário entre Mauriti e Juazeiro do Norte, cidade onde o curso é oferecido: “Eu consegui o auxílio moradia e, assim, eu ficava aqui [Juazeiro do Norte] durante a semana e, aos fins de semana, eu retornava para a minha cidade”, afirma.
Angela relata que – levando em conta que sempre estudou em escola pública e que seus pais são agricultores de pequeno porte – o auxílio foi de grande valia para sua permanência na universidade: “Então, foi todo um desafio, mas foi tudo providenciado – graças a Deus, também com a estrutura da assistência estudantil da universidade”, destaca.
“Foi a engenharia de materiais que abriu as portas para mim”
Natural de Juazeiro do Norte, Hiago Oliveira esteve na inauguração do atual campus Juazeiro do Norte da UFCA, em agosto de 2008, quando era estudante do ensino médio: “Eu lembro que foi uma grande festividade. Eu e muitos colegas viemos para cá e já ansiávamos vir estudar aqui. Hoje, muitos de nós somos egressos da UFCA, do curso de engenharia de materiais e também de outros cursos”, relata.
Hiago Oliveira, engenheiro de materiais formado na UFCA. À direita, com a família, durante sua formatura. Fotos: Davi Moreira – Dcom/UFCA; acervo pessoal
Como Ângela, Hiago prestou vestibular, em 2009, para o curso de engenharia civil – que já era oferecido pela UFC Cariri desde 2006. No entanto, a nota que alcançou não foi suficiente para ingresso: “Eu queria realmente me tornar engenheiro civil. Era o último ano do vestibular e aí tive a oportunidade de utilizar a nota para entrar em engenharia de materiais e me apaixonei pelo curso, desde o primeiro semestre”, disse.
Diferentemente de Ângela, Hiago Oliveira, também egresso da primeira turma de materiais da UFC Cariri, desenvolve suas atividades profissionais na própria região. Hoje, ele atua como coordenador industrial de uma grande indústria farmacêutica local. Há 8 anos trabalhando na mesma indústria, Hiago começou a trabalhar como auxiliar de produção, crescendo na carreira aos poucos.
O engenheiro de materiais destaca o difícil caminho até a colação de grau, enfrentando dificuldades estruturais da graduação recém-criada, como ausência de RU na época, escassez de ônibus até o campus e a incipiente infraestrutura do curso: “Foi um desafio [concluir engenharia de materiais], mas encarei realmente com muita dedicação e muita força. A taxa de evasão do curso, no tempo que a gente cursava, era maior que a dos outros cursos”, recorda.
Antes do atual trabalho, Hiago estagiou em empresas, passou por outras indústrias e chegou a estudar para concurso, mas acabou se consolidando no setor industrial: “Sempre tive paixão pela indústria e foi a engenharia de materiais que abriu as portas para mim. Gosto muito dessa rotina. Quero continuar atuando na indústria até eu não conseguir mais”, compartilha.
“Enfrentamos uma estrutura em desenvolvimento”
Janilson Ferreira, também egresso de engenharia de materiais da UFC Cariri, foi um dos que integraram o grupo inicial da primeira turma do curso, formada por apenas oito estudantes (inscritos no vestibular especificamente para ingresso no curso de engenharia de materiais que conquistaram aprovação).
O engenheiro de materiais brinca ao se considerar “mais antigo” que os próprios professores da formação: “Me sinto parte do curso desde novembro de 2009, no ato das provas de vestibular. Foi o último ano de vestibular como entrada nas universidades federais”, recorda.
À esquerda, Janilson em ensaio de colação de grau com integrantes da primeira turma de engenharia de materiais da UFCA (segunda fileira, o primeiro da direita para a esquerda). À direita, Janilson em colação de grau, em dezembro de 2014 (segunda fileira, primeiro da esquerda para a direita).
Foto: arquivo pessoal / acervo Dcom/UFCA
Janilson foi também o primeiro estudante da graduação em materiais a defender um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no ano de 2014, cujo título é “Incorporação de Argila em Resina Epóxi”. Ele também foi o primeiro egresso de materiais da UFCA a defender um doutorado, no ano de 2022. O título de sua tese é “Compostos polimorfos luminescentes aplicados como reveladores de impressões digitais latentes”, defendida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Para o egresso, um dos principais desafios enfrentados pela primeira turma foi difundir para a sociedade o que é a engenharia de materiais e como ela pode atuar em necessidades cotidianas.
“Enfrentamos uma estrutura em desenvolvimento. Não tínhamos bebedouro, energia elétrica e sequer professores. Outra dificuldade foi ligar o conhecimento básico da engenharia com o ofício do engenheiro de materiais. Tínhamos pressa de chegar à parte profissional do curso. A falta de equipamentos e, consequentemente, de aulas práticas foi outra dificuldade”, relembra.
Foto: Dcom/UFCA
Hoje, Janilson atua como engenheiro de materiais, como pesquisador e como professor: “Participo de projetos privados, sou pesquisador de um centro de pesquisa subsidiado pelo MCTI [Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação] e leciono em cursos de engenharia, em um centro universitário de Recife-PE”, enumera.
“Nossos alunos são destaques Brasil afora”
No fim de sua graduação, Janilson teve seu TCC orientado por sua então professora no curso de engenharia de materiais, Ledjane Sobrinho – atualmente vice-reitora da UFCA e titular da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae/UFCA).
Apesar do ritmo intenso de trabalho, que resulta da conciliação da vida docente com cargos estratégicos na atual gestão superior, professora Ledjane optou por continuar ministrando aulas na graduação: “É muito gratificante ser professora na UFCA. Tenho um amor muito grande por essa casa e, de modo especial, pelo curso de engenharia de materiais, que considero um curso de ponta. Nossos alunos são destaques Brasil afora”, celebra.
Química de formação, com mestrado e doutorado na área de engenharia metalúrgica e de materiais, professora Ledjane ingressou na UFCA em 2010, para a área de polímeros. Conforme a docente, o curso foi se estruturando com o tempo, com a chegada de mais professores e com a aquisição de novos equipamentos para o curso.

“Tenho lembranças maravilhosas nesses 15 anos de curso. Meu primeiro dia de aula, com os nossos alunos, é uma dessas lembranças marcantes. Coração acelerado da professora, sala cheia, rostos animados e ansiosos para a nova disciplina! A defesa de TCC do meu primeiro aluno, Janilson. E, claro, os momentos de confraternização com os demais professores, ao longo dos anos”, recorda.
Já em 2017, Ledjane assumiu a Prae/UFCA, que, até o ano anterior, era uma diretoria (Diretoria de Assuntos Estudantis): “Enquanto estava estruturando a pró-reitoria, fiquei afastada da sala de aula, mas, depois retornei, segui também orientando alunos de TCC e pesquisa. É muito gratificante a troca que acontece na sala de aula”, disse.
Primeira pró-reitora de ensino veio do curso de materiais
Professora Ana Cândida também precisou conciliar atividades acadêmicas e administrativas quando esteve à frente da então Pró-Reitoria de Ensino (Proen/UFCA) – que se tornaria Pró-Reitoria de Graduação com a aprovação do Estatuto da UFCA, publicada no fim de 2018 pela Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC).
Conforme a docente, após a ciência de que o campus Cariri da UFC iria se tornar UFCA, em 2012, houve uma reunião com o então reitor da UFC, professor Jesualdo Farias, com o já diretor do campus, Ricardo Ness, e outros professores na região.
“Nessa reunião, foram criados grupos de trabalho para se pensar a universidade. Um desses grupos era o GT Acadêmico, que estava pensando quais [seriam] os novos cursos, como iria ser a concepção didática da nova universidade e várias outras questões. Na época, o Marcelo Santiago era o presidente e eu era membro do GT. Meses depois, o Marcelo Santiago saiu e eu assumi a coordenação do GT”, relembra.
Para Ana Cândida, o convite para assumir a Proen/UFCA, feito pela primeira reitora da UFCA, Suely Chacon, veio provavelmente pelo trabalho de Ana à frente do GT Acadêmico: “Eu não tinha contato nenhum com a professora Suely, então eu acho que o convite veio realmente do trabalho que a gente desenvolveu naquela época. Hoje, existe o Sisu funcionando, a gente tem um Sigaa próprio. Nada disso existia. Além disso, a Proen, na época, foi pensada para [gerenciar] ensino de graduação e ensino de pós [-graduação]. Então, eu e uma equipe de quatro pessoas cuidávamos das duas coisas”, disse.
Apesar de ter se dedicado fortemente à rotina administrativa durante seu período como pró-reitora, professora Ana Cândida ainda manteve poucas atividades acadêmicas, como o trabalho de orientação de TCCs. De acordo com Ana Cândida, sua primeira orientanda foi a então estudante Ângela Menezes: “Eu lembro que ela frequentava muito a Proen para ser orientada”, afirmou.
De acordo com Ângela, a intensa rotina de estudos e pesquisas no curso de engenharia de materiais resultou em uma convivência profunda por parte dos discentes e, assim, eles acabaram construindo “uma segunda família”.
“A convivência diária [entre os primeiros estudantes e professores] virou um elo de amizade muito forte, ‘familiar’ eu diria. Até hoje [eu visito amigos dessa época], como vim [ao Cariri] visitar alguns professores, inclusive a minha orientadora, que à época era pró-reitora de Ensino, professora Ana Cândida. Foi ela quem entregou o diploma para mim, na ocasião da formatura. Foi um momento muito especial”, recorda.
Conforme Ana Cândida, essa experiência de entregar diplomas aos próprios alunos ou orientandos se repetiu algumas vezes, ao longo dos cerca de três anos que passou à frente da Proen/UFCA: ‘O primeiro deles, que eu chamo ‘da minha primogênita’, foi o da Ângela, que ela ia à Pró-Reitoria, esperava eu terminar as minhas reuniões e aí a gente se reunia e discutia todo o trabalho dela. Eu lembro que ela frequentava muito a Proen para poder também ser orientada”, recorda a docente.
Curso de engenharia de materiais hoje
O curso de engenharia de materiais iniciou suas atividades com apenas um laboratório, que era o de química geral. Atualmente, o curso conta com os laboratórios específicos de caracterização de materiais, de cerâmica, de ensaios mecânicos dos materiais, de metais e de polímeros – todos com equipamentos modernos.
Conforme professora Ana Cândida, da área de cerâmica, o laboratório demorou cerca de 10 anos para ser entregue, desde as primeiras aulas do curso de engenharia de materiais: “Hoje em dia, a gente tem os equipamentos básicos para dar uma boa aula aqui, mas, no começo, não tínhamos nada disso. Então, era tudo muito demonstrativo. Fazer os alunos imaginarem o que eles têm de disponibilidade para fazer foi um grande desafio no começo. [O curso de engenharia de materiais] é um curso extremamente prático”, analisa.
Professor André Wesley endossa a fala de professora Ana Cândida sobre a dificuldade de acesso a laboratórios. Segundo ele, com o desmembramento da UFC, o curso passou a adquirir equipamentos, necessários para as atividades práticas, mais rapidamente.
“Esse laboratório que nós estamos aqui [polímeros] é um laboratório que nem toda universidade que tem o curso de engenharia de materiais possui. É um laboratório didático, um laboratório de pesquisa… Na pandemia, ele foi provavelmente o único laboratório de processamento de polímeros que produziu máscaras face shields desde a matéria prima. Nós fizemos mais de 25 máscaras face shields e distribuímos para mais de 150 cidades do Nordeste, de quatro estados”, detalha André.

Foto: acervo Dcom/UFCA
Outro projeto desenvolvido no laboratório de polímeros da UFCA, ainda em fase experimental, é o de fabricação de órteses e próteses usando impressão 3D. Para a fabricação desses instrumentos, é usado um filamento produzido a partir da reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos.
“O professor Wendell Bruno, que é um ex-aluno nosso que fez pós-graduação no IME e nos Estados Unidos, veio com essa expertise de manufatura aditiva, que é conhecida como impressão 3D. Nós começamos a submeter projetos e a Funcap aprovou, no edital universal, o nosso projeto, que é a reciclagem de materiais de eletroeletrônicos para fazer o filamento, que é a primeira parte, o primeiro produto, para fazer as órteses e próteses”, disse André.
O edital universal da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) é um edital de financiamento que apoia projetos de pesquisa em diversas áreas do conhecimento, buscando promover o desenvolvimento científico e tecnológico do Ceará.

Mais recentemente, no fim do ano passado, a UFCA conquistou a aprovação de um mestrado em ciência e engenharia de materiais, com oferta de 13 vagas anuais. As linhas de pesquisa do programa são “Síntese e Caracterização de (Bio)Materiais” e “Tecnologia dos Materiais”.
Conforme o titular da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PRPI/UFCA), Claudener Teixeira, o programa contribui para o alcance de um dos principais objetivos da interiorização do Ensino Superior, que é evitar a necessidade de migração de pesquisadores para os grandes centros urbanos do país.
“Até agora, nossos alunos saíam [da região do Cariri] para fazer pós-graduação em Fortaleza, no Piauí, na Paraíba… Agora, não! Agora, temos o nosso programa aqui. Ele vai abrir muitas portas em relação ao desenvolvimento de pesquisas aliado a demandas e soluções para empresas que trabalham com materiais – como calçados, metais, cerâmica ou qualquer outro”, disse.
Interiorização da UFC e criação da UFCA
Em 2010, o que hoje chamamos UFCA ainda era parte da Universidade Federal do Ceará (UFC) – que, apesar de seus quase 71 anos (em 2025), iniciou seu processo de interiorização apenas no ano de 1997. No Cariri, o primeiro curso implantado pela UFC foi o curso de medicina, em 2001, na cidade de Barbalha.
Na sequência, em 2006, vieram os cursos de administração, de agronomia, de biblioteconomia, de engenharia civil e de filosofia – que funcionavam em espaços cedidos por outras instituições do Cariri. O atual campus Juazeiro do Norte, inaugurado em agosto de 2008, foi construído especificamente para o então campus Cariri da UFC. O mesmo processo ocorreu com o atual campus Crato da UFCA, inaugurado em 2011.
No desmembramento da UFC, em junho de 2013, foram criados os campi Brejo Santo e Icó da UFCA, que funcionaram em espaços físicos que já existiam nas respectivas cidades. O campus Brejo Santo segue funcionando na antiga sede da escola Balbina Viana Arrais, após ter passado por reformas (entregues em 2019). Já o campus Icó, que hoje sedia o Centro de Educação a Distância (Cead/UFCA), está em um prédio onde funcionou a Receita Federal no município. O espaço passou por adequações e foi inaugurado em 2022.
Expectativas de futuro para o curso
Ana Cândida Prado
A gente não está em Michigan, a gente não é da Nasa.. Eu não vou fazer talvez um material que vá para a lua, que vá revolucionar o mundo, mas eu tenho certeza de que eu vou contribuir para algumas pessoas revolucionarem o mundo. Isso é verdade
Ledjane Sobrinho
Para o futuro, minha expectativa é a melhor possível. O curso cresceu, temos novos professores, a aprovação de um um mestrado e com certeza um futuro ainda melhor nos aguarda!
André Wesley Rodrigues
A cidade de Juazeiro do Norte, nestes 15 anos, mudou muito e eu acredito que a UFC e a UFCA contribuíram para isso. Estou muito satisfeito por todas as oportunidades que eu tive aqui e sinto que ainda estamos construindo um legado.
Marcelo Santiago
Com a aprovação do mestrado, é possível que alguns discentes do curso de graduação criem uma perspectiva e, com isso, aumente o número de egressos no curso, diminuindo um pouco a evasão.
Janilson Ferreira
A UFCA está fincada em um centro industrial importante do Ceará, que culmina na movimentação financeira de outros estados adjacentes. Sua localização equidistante às demais capitais favorecerá planos logísticos, que crescerão com o desenvolvimento tecnológico. A engenharia de materiais suprirá muito da demanda científica que esse progresso exige.
Ângela Menezes
Eu acredito que irá crescer, com esses empreendimentos, com o crescimento da cidade, com novas indústrias, até mesmo com alunos que conseguirem montar seu próprio negócio, bem com a pós-graduação, que irá trazer mais oportunidades aos demais alunos que estão por vir.
Hiago Oliveira
Muito feliz em estar aqui compartilhando a minha história e poder parabenizar o curso de engenharia de materiais da UFCA, que completa 15 anos este ano. Faço questão de trazer experiência para os estudantes da área e mostrar que, se eu consegui, eles podem conseguir também.
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