Projeto de Cultura “Ubuntu: eu sou porque nós somos” promove debate sobre opressões na saúde

Publicado em 10/09/2020. Atualizado em 08/11/2022 às 17h27

Foto: Karina Zambrana (Arquivo/Ministério da Saúde)

As desigualdades sociais que oprimem determinadas populações e muitas vezes não são encaradas com a devida atenção motivou o estudante do curso de Medicina da Universidade Federal do Cariri (UFCA), o acadêmico do décimo semestre Marcos Alexandre de Sousa Barros, a propor um projeto de Cultura voltado para a discussão sobre as opressões de gênero, raça e sexualidade na saúde: o projeto “Ubuntu: eu sou porque nós somos”.

Voltado para debater, junto à comunidade acadêmica e aos usuários do sistema público de saúde as especificidades dos cuidados com a saúde das populações que são sistematicamente oprimidas – a população negra, as pessoas LGBTQI+ e as mulheres –, a ideia do projeto, em princípio, de acordo com o proponente e bolsista Marcos Barros, era fazer Círculos de Cultura – a partir da pedagogia freiriana – tanto com os estudantes da Faculdade de Medicina (Famed), a fim de debater essas questões entre os acadêmicos, como com a população atendida pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), com o intuito de eles formarem conhecimento a partir de suas próprias vivências.

Segundo Marcos, essas populações são oprimidas por diferirem do padrão imposto pela sociedade, que é o homem branco, cisgênero e hétero: “A Medicina mundial, de forma geral, é criada para atender um tipo de corpo, que é o homem branco heterossexual e cisgênero”. Segundo ele, esse padrão não é o que se encontra nas UBS, mas é o modelo que se estuda formalmente na Medicina. “Não se discute nada de saúde de populações negligenciadas”, conta Marcos. “A gente passa o curso todinho sem discutir, aí que tipo de médico é esse que a gente está formando para estar atendendo essas populações no futuro?”, questiona.

Embora existam políticas nacionais de atenção integral, que são mecanismos que buscam ofertar serviços de saúde que correspondam às necessidades dessas populações – negra, LGBTQI+ e mulheres –, elas não são implementadas a contento, comenta Marcos. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (link para uma nova página), instituída em 2009, por exemplo, já tem mais de dez anos e nem 10% dos municípios brasileiros a tem implementada. Falta de preparo é um dos fatores que impedem que essas políticas sejam implementadas e o fato de não se debater isso na graduação, segundo Marcos, impossibilita essa implementação.

A coordenadora do curso de Medicina da UFCA, Emille Sampaio, diz que existe um planejamento pedagógico para que essas pautas estejam incluídas na aprendizagem de forma natural, sem se limitar a disciplinas específicas. De acordo com Emille, “há muita resistência”, uma vez que existem problemáticas sociais também dentro dos processos de aprendizagem e tratar dessas questões depende muito da formação prévia de todos os envolvidos no ensino. Emille destaca a importância de projetos como Ubuntu para fomentar essas questões dentro da universidade: “Um projeto como esse nos ajuda bastante a inserir na formação acadêmica essas reflexões”, disse.

A tutora do Ubuntu, a professora da Famed, Gislene Oliveira, também destaca a importância da função de projetos que trazem para a pauta essas questões. Ela lembra que os cursos de Medicina estão com um novo projeto pedagógico, que visa a transversalidade dos estudos e que busca tratar das questões humanas, voltando a aprendizagem para o respeito e a sensibilidade com o outro. O Ubuntu, segundo Gislene, nasce também com esse compromisso, promover discussões a partir de temáticas que são percebidas pelos alunos como emergentes.

Formato remoto

Com a suspensão das atividades presenciais por causa da pandemia do Coronavírus, o projeto passou a atuar por meio das redes sociais debatendo diversos temas afins com a ideia inicial do projeto, que é vincula do à Pró-Reitoria de Cultura (Procult/UFCA).

Marcos Barros e os dois voluntários que participam do projeto, Marcos Ryan Barbosa Rodrigues e Débora Maria Sousa Alexandre, ambos estudantes do terceiro semestre do curso de Medicina, elaboram quadros informativos e promovem diálogos virtuais através das redes sociais. Durante o mês de julho, por exemplo, foram feitos diversos quadros sobre saúde LGBTQI+ e uma live sobre Saúde Intersexo. Em agosto, realizaram cinedebate a partir de filme que aborda questões ligadas à ideia do projeto. No perfil do Instagram (@ubuntu_ufca), além de divulgarem a programação, dão dicas de leituras e de filmes.

Ubuntu

“Ubuntu” é uma palavra de origem africana, que resume uma cosmovisão através da filosofia “eu sou porque nós somos”. Esta é uma forma de enxergar o mundo e a humanidade como parte de cada ser vivente. As filosofias africanas são extensamente baseadas na visão de Ubuntu, e há sinais em diversas culturas de que essa cosmovisão está presente na construção das sociedades africanas como um todo. Além de ser uma forma de pensar que se baseia na empatia – solidariedade, respeito, cooperação, acolhimento e generosidade – entre todos os seres, também é uma percepção que entende a necessidade de todos estarmos sempre trabalhando juntos, pensando uns nos outros.

Serviço

Projeto Ubuntu – Eu sou porque nós somos
Intagram: @ubuntu_ufca