“Não existe jornalismo sem trabalho coletivo”: série especial de 15 anos revisita trajetória de mais um curso da UFCA iniciado em 2010
Publicado em 13/06/2025. Atualizado em 13/06/2025 às 12h10

“Eu imaginava que a gente ia chegar e, de imediato, iria aprender a fazer uma reportagem, como se portar na frente de uma câmera e coisas do tipo… mas, pelas nossas condições [de infraestrutura] de curso, já que éramos a primeira turma, foi completamente o contrário”.
Essa foi a experiência do jornalista Isaac Macêdo no início do curso de comunicação social da Universidade Federal do Ceará (UFC) no Cariri – no qual ingressou em fevereiro de 2010. Natural de Juazeiro do Norte, o jornalista compôs a primeira turma do curso, que este ano celebra 15 anos de atividades.

Também jornalista, Tiago Coutinho chegou ao Cariri, em agosto de 2010, para ser professor do então recém-criado curso de comunicação social da UFC na região. Por aqui, ele também encontrou uma universidade bem diferente do que é hoje.
“O povo brinca, dizendo ‘na minha época só tinha mato’, mas era quase isso mesmo. Não tinha asfalto [nas vias de acesso ao campus], nós tínhamos apenas dois prédios [no campus Juazeiro do Norte] e o curso de jornalismo tinha dificuldade de ter salas de aula”, recorda.

15 anos depois, essa formação integra a atual Universidade Federal do Cariri (UFCA) e, ao lado de outros três cursos iniciados em 2010 (design, engenharia de materiais e música), tematiza uma série especial, produzida pela Diretoria de Comunicação (Dcom/UFCA).
O curso de comunicação social, no Cariri, foi criado em 24 de julho de 2009 – pelo Conselho Universitário da Universidade Federal do Ceará (Consuni/UFC). Com habilitação em jornalismo, o curso objetiva formar profissionais capazes de atender a demandas sociais e mercadológicas da região, no âmbito da comunicação.
Sete meses depois, em março de 2010, os primeiros estudantes do recém-criado curso começaram a chegar ao então campus Cariri da UFC, em Juazeiro do Norte.
Ainda sem dispor de salas de aula próprias e à espera dos professores para o quadro efetivo do curso (que ainda não haviam assumido seus postos), coube ao professor dos cursos de filosofia da então UFC Cariri, Luiz Manoel Lopes, acompanhar os calouros de comunicação social durante a primeira semana de aula.
Para manter os estudantes ativos, a solução encontrada por Luiz Manoel foi apresentá-los à obra do cineasta brasileiro Leon Hirszman, um dos expoentes do chamado Cinema Novo: movimento do cinema brasileiro que tinha como principais características o realismo e a crítica social.

Uma das primeiras professoras efetivas do curso, Rosane Nunes chegou à região um pouco depois do início do curso, junto ao primeiro grupo de professores: “Éramos apenas quatro ou cinco professores e iniciamos o curso desta forma: com poucos professores, com apenas salas de aulas [compartilhadas com outros cursos] e sem laboratórios. Naquela época, o nosso principal desafio era estruturar o curso”, relembrou.
Além de Rosane, faziam parte desse grupo inicial os docentes Luís Celestino, Ricardo Salmito, Paulo Cajazeira e Marcelo Leite. Quando assumiu o curso de comunicação social, Rosane ficou responsável pelas disciplinas de radiojornalismo. Rosane foi a segunda coordenadora do curso de comunicação social no Cariri e assumiu o cargo em março de 2012, após a gestão do professor Celestino.

Segundo Isaac Macêdo, durante sua formação, a dimensão prática do curso de jornalismo foi impactada pela falta de equipamentos e de espaços apropriados: “Quando a gente passou daquela parte teórica e precisava colocar a mão na massa, a gente não tinha massa para colocar a mão. A câmera que a gente usava para fazer os trabalhos de telejornalismo, por exemplo, era uma câmera que pertencia ao curso de filosofia e que foi doada para o jornalismo, mas não tínhamos um técnico para operá-la”, pontuou.
Para Isaac, contudo, as dificuldades enfrentadas por ele e por seus colegas durante a formação acadêmica fortaleceram a capacidade criativa deles como profissionais, pois essa experiência contribuiu para que conseguissem contornar, fora dos muros da universidade, situações adversas que viveriam posteriormente.
Hoje, Isaac mora em Fortaleza e é jornalista na TV Verdes Mares (emissora cearense afiliada à TV Globo: a maior emissora de TV do Brasil).
Demanda local e contribuição social: a implantação do curso de jornalismo
A oferta de um possível curso de jornalismo começou a ser pensada após pesquisas realizadas junto a estudantes do Cariri. Essas pesquisas faziam parte de um projeto do professor Jeová Torres, docente do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA/UFCA), e apontaram o curso de jornalismo como um dos mais considerados, pelos estudantes consultados, como possível destino acadêmico, após o ensino médio.
Conforme Ricardo Ness, que assumiu a direção do campus Cariri da UFC no fim de 2008, esse foi apenas um dos motivos para a implantação do curso na região: “Achávamos também que a formação de jornalistas poderia contribuir para uma significativa melhoria da mídia local, fato este que, a meu ver, vem se confirmando”, explica.
Além disso, também contribuiu para a criação do curso a adesão da UFC ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A iniciativa do governo federal tem o objetivo de ampliar a oferta de vagas no ensino superior para além dos grandes centros urbanos e, na época, oferecia investimentos em contrapartida à criação de novos cursos, por parte das universidades e institutos federais.
Uma das responsáveis por acompanhar os trâmites para a implementação do atual curso de jornalismo foi a professora Ariluci Goes – primeira coordenadora do curso de biblioteconomia da UFC no Cariri. A docente recorda que coube a ela e à professora Vilma Sudério (vice-diretora do campus da UFC no Cariri) a missão de desenvolver o primeiro Projeto Pedagógico do Curso (PPC). Elas também organizaram os primeiros concursos públicos para contratação de professores.
“Foi a maior polêmica, por não sermos da área [da comunicação social], mas não podíamos perder a oportunidade de ter esse curso tão importante para o campus e para a região. A gente realmente não era da área, mas a gente queria ajudar”, ressalta Ariluci.
Para a construção do primeiro PPC do atual curso de jornalismo, professora Ariluci realizou pesquisas junto aos projetos de cursos de outras universidades federais – até mesmo o da UFC ofertado na capital do estado, Fortaleza.

Após a construção de uma proposta de PPC, o documento foi enviado para o Ministério da Educação (MEC), a fim de oficializar a aprovação da oferta de vagas do novo curso.
“A gente montou o projeto e, logo quando houve os primeiros concursos, [o documento] já foi entregue aos primeiros docentes do curso. Aí, os professores do jornalismo, da comunicação social, já pegaram o PPC e foram modificando, para deixá-lo com a cara que o curso tem hoje”, destaca Ariluci.
“Não existe jornalismo sem trabalho coletivo”
Já no primeiro ano de funcionamento do curso, Rosane Nunes e os demais professores específicos do curso de jornalismo consideravam que, embora fosse recente, o projeto pedagógico do curso de comunicação já estava desatualizado. Conforme Rosane, as atualizações do projeto tinham como foco trazê-lo para realidade local, tendo em vista que o PPC foi construído com base em projetos de graduações ofertadas em outras cidades.
“Quando nós chegamos, percebemos essa necessidade de trazer o PPC tanto para a realidade da região como também para atualizá-lo. Era um curso novo, mas com um projeto pedagógico que já tinha um tempo de estrada. E, como a gente sabe, o jornalismo é uma área que precisa ser atualizada o tempo todo: as tecnologias, as demandas sociais, as linguagens, as necessidades de novas formas de comunicação e de novos fluxos exigem do curso de jornalismo uma constante atualização”, justifica Rosane.
A partir dessa atualização, foram criadas disciplinas do núcleo de realidades regionais, como os de comunicação popular e de cultura popular. O núcleo de assessoria de imprensa também foi criado a partir dessa atualização. Rosane afirmou que essa nova versão “cuidou de olhar para as realidades locais, atender demandas e dar respostas à sociedade”.
“Foi criado uma tríade de disciplinas: ‘comunicação e política’, ‘assessoria de imprensa’ e ‘gestão da comunicação’. Essas três disciplinas formaram o tripé da formação do estudante para a comunicação organizacional e isso foi um avanço, porque, naquela época (e ainda hoje), muitos cursos de jornalismo, de muitas universidades, não davam o espaço necessário para disciplinas de assessoria de imprensa”, ressaltou Rosane.
A docente considera que a inclusão de disciplinas da comunicação organizacional foi algo inovador e até um pouco ousado. Para Rosane, a alta empregabilidade dessa área, na região do Cariri, referendou a decisão.
Rosane faz questão de enfatizar que os elementos centrais para contornar as adversidades dos anos iniciais do curso de jornalismo foram “empenho coletivo” e “muito trabalho”: “Não existe jornalismo sem trabalho coletivo. Jornalismo não se faz sozinho. Jamais! Então, apesar das grandes dificuldades [enfrentadas pelo curso nos primeiros anos], foi possível vencê-las por meio desse senso de coletividade”, defende.
Parcerias com outras instituições
Em seus anos iniciais, como já destacado, as principais dificuldades do curso de comunicação social/jornalismo estavam relacionadas a questões estruturais. Conforme Ricardo Ness, o início do atual campus Juazeiro do Norte da UFCA foi marcado por construções e reformas, principalmente, em virtude da crescente demanda por instalações físicas para os novos cursos da instituição.
Especificamente no caso de jornalismo, atividades práticas de disciplinas como telejornalismo e radiojornalismo eram desenvolvidas fora do atual campus Juazeiro do Norte da UFCA. Como forma de amenizar essa situação, a universidade firmou parcerias com outras instituições – a exemplo do Serviço Social do Comércio (Sesc) e da Rádio FM Padre Cícero.
“Então, a gente também tinha que se deslocar para um outro canto que não era a universidade para ter essa aula. Era um pouco mais de gastos, era um pouco mais de dificuldade, mas, ao mesmo tempo, a gente sabia muito valorizar aquilo que a gente tinha conquistado”, destacou Isaac Macêdo sobre as experiências práticas efetivadas fora do atual campus Juazeiro do Norte da UFCA.

Mudanças no curso e novo PPC
Nesses 15 anos, o atual curso de jornalismo da UFCA foi impactado por mudanças tanto em termos de estrutura física como também em seus aspectos pedagógicos. Edwin Carvalho, professor da UFCA há 13 anos, lembra que, quando chegou à universidade, o curso de jornalismo ainda era modesto, com uma estrutura laboratorial muito pequena, bem diferente da realidade que se tem hoje.

Em setembro de 2013, quando o campus Cariri já havia se tornado UFCA, o Conselho Nacional de Educação instituiu novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de jornalismo. Entre as mudanças, habilitações anteriormente vinculadas ao curso de comunicação social se tornaram graduações independentes.
Logo depois disso, entre 2014 e 2016, Edwin assumiu a coordenação do curso. Nesse período, a formação passou pelo processo de reconhecimento junto ao MEC.
Com esses processos, o curso passou por modificações, que só se efetivaram, de fato, apenas em 2016, com a reformulação do PPC.
A ênfase nas práticas jornalísticas foi uma das principais mudanças do bacharelado. Com isso, novos laboratórios e disciplinas foram criados, como a disciplina introdução às práticas jornalísticas e o laboratório de assessoria de imprensa (disciplina laboratorial ofertada no sexto período, com foco na prática da assessoria de imprensa).
A partir dessas adequações, os estudantes do curso de jornalismo da UFCA tiveram a oportunidade de experienciar a parte prática da profissão já no início da graduação, diferentemente do que ocorreu com as primeiras turmas da formação. No caso das primeiras turmas, a prática estava concentrada a partir do quinto período.
Com quase dez anos desde a última atualização no PPC do curso, professor Edwin também evidencia a necessidade de novas adequações do programa pedagógico do curso, sobretudo em razão dos avanços tecnológicos e digitais que influenciaram o meio jornalístico.
“Hoje, nós temos discutido reformulações no projeto pedagógico a partir de mudanças da configuração do campo jornalístico, como a chegada da inteligência artificial, o crescimento do jornalismo de dados, o crescimento das plataformas digitais e uma mudança no ramo da comunicação organizacional. Nós estamos rediscutindo a reformulação do PPC para que ele possa se adequar às transformações do campo acadêmico e do profissional também”, enfatizou.
Realização de sonhos
A passagem pelo curso de jornalismo significou a realização de um sonho para muitos jornalistas formados pela UFCA. Natural de Acopiara, no Centro-Sul do Ceará, Claudiana Mourato sonhava desde criança em ser jornalista: “Eu sempre gostei muito de escrever, não de falar, mas de escrever, de noticiar, de conversar, para contar o dia a dia [por meio da escrita]. Eu sempre tive isso na minha mente”, frisou.
Claudiana, formada em jornalismo pela UFCA em 2016, precisou abdicar da convivência diária com seus familiares e da estabilidade de um concurso público para realizar o sonho de cursar jornalismo em outra cidade.
Depois de ter passado por outras duas graduações (letras e serviço social), aos 26 anos, ela foi aprovada no curso de jornalismo da UFCA e, com isso, mudou-se para Juazeiro do Norte, em 2013.

“Eu deixei os meus pais, deixei o meu filho e o meu trabalho concursado em meu município. Eu falei para os meus pais que gostaria de ir atrás do meu sonho. Foi quando minha mãe ficou com o meu filho, durante quatro anos, para que eu pudesse correr atrás de um sonho que era meu, mas que eu tinha certeza que iria trazer benefícios também para o meu filho, para ter nossa estabilidade financeira, que, de certa forma, hoje a gente tem”, afirmou.
A formação na área permitiu que Claudiana tivesse reconhecimento profissional e uma posição de destaque em veículos de comunicação do Cariri. Hoje, ela integra a produção telejornalística da TV Verdes Mares Cariri – integrante da afiliada cearense da TV Globo.
Se para Claudiana o jornalismo era sua opção desde criança, para Aline Fiuza, o curso surge como uma possibilidade de unir a paixão pela escrita e pelo esporte.
Aline, egressa da turma 2017.1 de jornalismo da UFCA, é natural de Várzea Alegre-CE, mas atualmente mora na cidade de São Paulo-SP, devido ao seu trabalho na assessoria de comunicação do São Paulo Futebol Clube (SPFC): um dos maiores times de futebol do Brasil.
“No Ensino Médio, as minhas únicas certezas eram que eu tinha muita facilidade com a escrita e que eu queria que envolvesse o esporte. Então, quando eu pensava num curso, eu sempre pensava em procurar alguma coisa que eu conseguisse juntar essas minhas duas paixões”, disse.

Após ter essa ideia bem definida, Aline começou a pesquisar cursos de jornalismo e foi assim que a UFCA cruzou seu caminho. Quando soube que a instituição ofertava essa graduação e que o campus ficava próximo de sua cidade, a então futura jornalista entendeu que era um sinal.
Quando Aline chegou à UFCA, encontrou uma estrutura bem diferente dos primeiros anos do curso: “Minha primeira semana na UFCA foi aquele impacto… de [poder usufruir de] uma estrutura absurda. Eu lembro que demorei muito para conseguir decorar todos os caminhos da universidade, porque era tudo muito grande e a gente tinha que sair para os laboratórios, tinha que trocar de sala”, lembrou.
Aline era conhecida no curso como a “apaixonada pelo esporte” e, a partir dessa fama, surgiu sua primeira oportunidade de experienciar o jornalismo esportivo dentro do curso.
“No meu segundo semestre, fui convidada para ser editora de esportes da [Revista] Bárbaras: um projeto de extensão e de cultura da UFCA no qual a gente desenvolvia uma revista feita por mulheres que pautavam mulheres. Foi o meu primeiro trabalho mais certeiro dentro do jornalismo esportivo”, disse Aline.
Na UFCA, Aline também fundou o seu próprio projeto: o podcast “Geração 7×1”. Segundo ela, foi a primeira iniciativa do curso de jornalismo 100% voltado para o esporte. Além de Aline, também fizeram parte da criação do projeto os jornalistas Gabriel Tavares, João Pedro Teixeira e Rodolfo Andrade – à época, também discentes do curso de jornalismo da UFCA.
Fora dos muros da universidade, quando ainda cursava jornalismo na UFCA, Aline encontrou mais uma experiência no esporte, quando ingressou na equipe de marketing da Associação Desportiva Recreativa Cultural Icasa: um tradicional time de futebol cearense, fundado em Juazeiro do Norte. Ela integrou a equipe por dois anos.
“Aquilo [trabalhar no Icasa] era uma coisa que me motivava muito e, com esse meu trabalho no Icasa, a Federação Cearense de Futebol (FCF) me conheceu. Eles queriam aumentar a equipe de comunicação no Cariri, para fazer uma cobertura mais intensa dos clubes da região. Fiquei como a primeira social media [da FCF na região]. Depois, ainda fiz parte da Rádio FM Padre Cícero, também como editora de esportes”, complementou.
A paixão pelo futebol e a dedicação ao jornalismo também fizeram com que Aline tivesse a oportunidade de atuar, durante um ano e meio, como gestora das mídias digitais do Premiere – canal por assinatura, do Grupo Globo, com foco em esportes. Foi nesse período que o SPFC conheceu o trabalho dela e a convidou para trabalhar no clube paulista.
José Anderson Freire Sandes
Os rumos do curso de jornalismo não teriam sido os mesmos sem a contribuição do professor José Anderson Freire Sandes (1954 – 2023). Ele se tornou professor da UFCA em agosto de 2010 e era responsável por disciplinas voltadas para o jornalismo impresso, área na qual trabalhou por mais de 40 anos.
Conforme Rosane Nunes, professor Anderson era um “amante incurável do jornalismo” e sempre foi uma pessoa muito amorosa e querida por todos na universidade – em especial, no curso de jornalismo: “Ele sempre alinhavava muito o curso, no sentido de trazer uma quietude para o curso, e também não deixou de ser um grande farol, porque era o nosso decano: o professor mais experiente do curso. Anderson foi alguém que nos trazia muito essa luz, no sentido do jornalismo… da base do jornalismo”, relata.

Antes de ser docente da UFC, Tiago Coutinho teve a chance de trabalhar com Anderson no jornal Diário do Nordeste, em Fortaleza. Durante 28 anos, Anderson chefiou a editoria do caderno de cultura e variedades do periódico. Segundo Tiago, Anderson foi o seu primeiro chefe.
“Ele tinha uma bagagem histórica e de vivência no jornalismo que eu acho que ninguém teve aqui no curso [da UFCA] e ninguém nunca vai ter, porque o jornalismo que o Anderson viveu não existe mais”, opina.
Por ser professor na área de jornalismo impresso, Anderson era o responsável por acompanhar, junto aos discentes, todo o processo de produção de três das principais revistas impressas do curso – a Memórias Kariri, a Revista Bárbaras e a Caracteres.
Aline Fiuza lembra que conheceu o professor Anderson quando passou a integrar a equipe da Bárbaras. Ao escrever seu primeiro conteúdo para a revista, Aline se recorda de um elogio que recebeu de Anderson que a deixou ainda mais motivada para seguir na graduação.
“Eu lembro muito bem que, depois que escrevi o meu primeiro texto, que enviei para eles, Anderson me encontrou nos corredores e disse assim: ‘como eu deixei você escapar? O seu texto é muito bom! Eu não precisei mexer nada nele. Não pode escapar de mim, não: você tem que vir trabalhar aqui comigo’. Isso me deu um ânimo absurdo no comecinho do curso”, relembra.
Claudiana Mourato afirma que falar do professor Anderson lhe “toca o coração”, porque, segundo ela, ele era uma pessoa muito alegre e divertida, além de saber repassar seus conhecimentos práticos sobre o jornalismo.
“Ele sabia que a gente tinha os nossos desafios como estudantes e ele estava sempre junto para ajudar de alguma forma. O que mais lembro dele era o amor que ele tinha pelo jornalismo e [a forma como ele] sabia passar isso para as outras pessoas. Eu aprendi muito com ele justamente isso: saber lidar tanto com o mercado de trabalho como [transpor] o jornalismo da teoria para a prática e eu guardo isso no meu coração”, destacou.
Edwin Carvalho também reforça a ideia de que não tem como falar da história do curso de jornalismo da UFCA sem mencionar a presença de seu jornalista mais experiente.
“Anderson era um jornalista em essência e, como jornalista em essência, ele contribuia para o debate em torno do campo jornalístico. Ele tem essa importância histórica para o curso não só pelo excelente professor que ele era, mas também pela sua qualidade jornalística que se somou significativamente ao curso de jornalismo da UFCA”, disse.
Profissionalização
A trajetória do curso de jornalismo da UFCA durante esses 15 anos também foi acompanhada de um incentivo ao processo de profissionalização do mercado de trabalho caririense, no âmbito da comunicação.
Para o professor Tiago Coutinho, a oferta dessa graduação na região possibilitou que algumas áreas de atuação profissional fossem fortalecidas, ou até mesmo criadas.
“Hoje, quase todos os órgãos públicos que têm uma assessoria de comunicação têm um egresso do nosso curso. Isso era impossível em 2010, porque não existia esse campo de atuação. Se você for ao esporte, você vai ter jornalistas que são referências e que foram formados aqui; se você vai para o telejornalismo, para o radiojornalismo, para o campo da produção cultural… é a mesma coisa”, ressalta Coutinho.
Alinhado ao que disse Tiago, professor Edwin reflete sobre uma mudança no perfil do egresso do curso de jornalismo da UFCA e seu comportamento no mercado de trabalho, desde a criação do curso. Para ele, hoje, o mercado é mais plural, com outras possibilidades de atuação – além da TV, do rádio e da internet.
“Nós temos uma série de outras possibilidades de atuação para o jornalista e a comunicação organizacional é uma delas, mas temos crescido também na comunicação visual e nas plataformas digitais, com ênfase na gestão de conteúdos para essas mídias. Então, hoje, a formação dos jornalistas exige uma série de habilidades e competências que talvez não exigisse há 15 anos, quando o curso foi criado”, relatou Edwin.
O curso de jornalismo da UFCA, atualmente, dispõe de uma equipe de 17 docentes efetivos e espaços laboratoriais mais adequados às atividades práticas do curso.
“A gente tem uma diversidade de formação dos professores que eu também acho muito interessante, não só na graduação, mas também na pós-graduação. A gente já tem uma estrutura laboratorial muito interessante e temos uma coisa que só a história pode oferecer e que era impossível em 2010: uma série de referências de profissionais que saíram do curso”, afirma Tiago Coutinho.
Expectativas para o curso daqui a 15 anos
“Quero ver mais mulheres voltadas para o jornalismo esportivo. Quero que, daqui a 15 anos, quando quiserem falar sobre jornalismo esportivo, tenha mais mulheres dedicadas à essa área na região, mulheres que tenham alcançado sucesso no meio esportivo. Eu espero que entrem mais jovens com sonhos e que eles saiam mais motivados em busca da realização deles.”
Aline Fiuza, egressa da turma de 2017.1
“Espero que a estrutura física do espaço melhore cada vez mais, com laboratórios atualizados, que atendam as demandas do novo jornalismo. Que os futuros jornalistas encontrem no curso os meios necessários para exercer seu papel social, essencial na sociedade em que vivemos, com o olhar atento aos direitos dos cidadãos.”
Claudiana Mourato, egressa da turma de 2013.1
“Que o jornalismo não perca a sua essência, o compromisso com a verdade, com a ética e com o combate às desigualdades. Eu espero que, daqui a 15 anos, o curso de jornalismo da UFCA continue mantendo a sua essência, que é atuar significativamente para que nós tenhamos uma sociedade melhor.”
Edwin Carvalho, docente da UFCA
“Eu espero e acredito que o curso de jornalismo da UFCA continuará mostrando a força que tem, não somente na formação de grandes profissionais, mas também na formação de cidadãos capazes de contribuir com a construção de um Cariri e de um Ceará mais potentes.”
Isaac Macêdo, egresso da turma de 2010.1
“O curso precisa atuar mais no combate ao modelo de precarização dos trabalhadores da comunicação e do jornalismo na região. Uma vez que já mudamos a realidade do campo da comunicação no Cariri, agora, [precisamos] fazer com que esse campo de atuação fique mais saudável para os profissionais.”
Tiago Coutinho, docente da UFCA
Serviço
Curso de Jornalismo
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