Estudante surda defende primeiro TCC na UFCA produzido na Língua Brasileira de Sinais

Publicado em 02/10/2025. Atualizado em 08/10/2025 às 08h37

Da esquerda para direta: Miriam Royer, Gisele Garcia, Sueli Fioramonte, Simone Bezerra e Benício da Silva. Foto: Vitorino Silva - Dcom/UFCA

“A saúde tem limite? um relato de experiência entre a área da saúde e a pessoa surda”. Esse foi o tema do primeiro Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na Universidade Federal do Cariri (UFCA), desenvolvido na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A pesquisa foi defendida na última terça-feira, 30 de setembro de 2025, no campus Juazeiro do Norte. 

Realizado pela estudante Simone Bezerra dos Santos, do curso de Letras-Libras da UFCA, o trabalho abordou as dificuldades enfrentadas por surdos, na região do Cariri, durante rotinas de saúde, como exames ou consultas. 

Conforme Simone, o trabalho teve como ponto de partida a sua própria experiência enquanto acompanhava sua irmã em um tratamento contra o câncer: “Nesses atendimentos, eu tinha muita dificuldade, pois, por não saberem Libras, as pessoas tentavam se comunicar comigo por meio do português escrito, mas o português não é minha primeira língua”, reforça.

A estudante também ressalta que a falta de tradutores-intérpretes de Libras e a linguagem formal usada em ambientes médicos prejudicam ainda mais a comunicação nesses atendimentos hospitalares.

Simone foi orientada pela professora da UFCA Miriam Royer e pelo docente Benício Bruno da Silva, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal). Além dos orientadores, também integraram a banca examinadora as professoras da UFCA Gisele Pereira Gama Garcia e Sueli Fioramonte Trevisan.

Miriam Royer, que também é coordenadora do curso de Letras-Libras, destacou a importância do trabalho para a área da saúde: “Considerando que o Brasil tem cerca de 10 milhões de pessoas surdas e a maioria dos médicos não sabe se comunicar em Libras, Simone demonstra, por meio de sua experiência pessoal com a irmã, como é vivenciar as barreiras da comunicação”, afirma.

TCCs em vídeo

De acordo com seu Projeto Pedagógico de Curso (PPC), o curso de Letras-Libras da UFCA possibilita que os estudantes dessa licenciatura desenvolvam TCCs de duas formas: escrita (como artigos acadêmicos ou monografias) ou por por meio de um produto (aplicativos, e-books, vídeos, sites, performance artísticas etc.).

O trabalho de Simone foi feito em vídeo e seguiu as normas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

No caso de Simone, embora a banca se debruce com mais atenção sobre o vídeo em si, a estudante também deve, para concluir seu curso, entregar um trabalho escrito, em português. Conforme o PPC da licenciatura em Letras-Libras, o trabalho escrito deve trazer “protótipo apresentando justificativa, objetivos, metodologia, referencial teórico, resultados e conclusões”.

“Quando eu comecei a pesquisa, fiz um esboço escrito, mas, como o português não é a minha primeira língua, decidi usar esse esboço em português para a gravação do vídeo em Libras. A nossa língua é bastante visual e nela a gente consegue se expressar de forma mais aprofundada”, finalizou.

Serviço

Instituto Interdisciplinar de Sociedade, Cultura e Artes
iisca@ifca.edu.br