Artigo sobre controle na resolução de problemas matemáticos, desenvolvido no IFE/UFCA, é publicado em periódico A1

Publicado em 27/04/2021. Atualizado em 31/10/2022 às 15h51

Entrada do Instituto de Formação de Educadores (IFE), localizado em Brejo Santo.

O não pertencimento ao universo matemático vem sendo apontado (link para uma nova página) como uma das principais explicações para as frequentes queixas no aprendizado de Matemática por parte de jovens dos Ensinos Fundamental e Médio. Queixas essas que se traduzem em dados: segundo a edição 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa – link para uma nova página) – que compila dados sobre aprendizado, a cada três anos, em mais de 70 países – 68,1% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não atingiram nível básico de Matemática: o mínimo para o exercício pleno da cidadania. No Brasil, o responsável pela aplicação do Pisa é o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC). Por aqui, 597 escolas, públicas ou privadas, participaram do levantamento, que selecionou uma amostra de 10.961 alunos, entre 2 milhões de estudantes matriculados nas instituições.

Uma explicação ainda pouco explorada nos trabalhos relacionados ao Ensino de Matemática, no entanto, é o controle na resolução de problemas matemáticos, que seria um monitoramento, por parte do(a) estudante, das etapas da resolução de um problema matemático. Com esse controle, o(a) aprendiz poderia identificar exatamente onde está sua dificuldade de aprendizagem e, dessa forma, trabalhá-la de forma mais objetiva, para superá-la.

Essa abordagem foi tema de artigo desenvolvido pelo professor do Instituto de Formação de Educadores da Universidade Federal do Cariri (IFE/UFCA), Paulo Gonçalo Farias, em parceria com o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Isauro Beltrán Núñez. O trabalho foi publicado, neste mês de abril de 2021, no Boletim On-line de Educação Matemática (link para uma nova página), um periódico científico nas áreas de Educação e de Ensino, com classificação A1: “Publicar [um artigo] em um dos principais periódicos de Educação Matemática da América Latina permite uma ampla divulgação de uma pesquisa acadêmica realizada fora dos grandes centros de pesquisa do país. Além disso, possibilita a divulgação de uma experiência educativa que pode ser usada como referência para a construção de outras iniciativas que visem a auxiliar a formação de aprendizes autônomos”, pontua professor Paulo.

Sobre a dificuldade “natural” das pessoas em Matemática, o docente da UFCA reconhece que existem desafios a superar no Ensino e na aprendizagem da disciplina, mas considera que a suposta “inteligência acima da média” de pessoas com alguma habilidade em Matemática é um mito: “A Matemática, assim como qualquer outra disciplina, possui características que podem tornar seu estudo desafiador. Ciente dessa e de outras problemáticas, há uma área do conhecimento denominada Educação Matemática, que estuda, a partir de diferentes referenciais teóricos, como melhorar os processos de Ensino, aprendizagem, avaliação, elaboração de currículos, formação de professores etc. Nesse sentido, educadores matemáticos do Brasil e do mundo têm desenvolvido pesquisas que buscam apresentar caminhos para auxiliar a mudança nesse atual quadro de aprendizagem em Matemática”, explica.

Pesquisa desenvolvida no IFE/UFCA

A pesquisa contou com a participação voluntária de oito estudantes do IFE/UFCA, no campus Brejo Santo, no âmbito da disciplina “Laboratório de Educação Matemática I”, componente dos cursos de licenciaturas do instituto (tanto a Licenciatura Interdisciplinar em Ciências Naturais e Matemática quanto a Licenciatura em Matemática. A oferta do segundo curso se restringe a formados no primeiro). De acordo com o professor Paulo Gonçalo, a experiência educativa consistiu no planejamento, diagnóstico do conhecimento prévio dos estudantes, aplicação e avaliação de atividades de resolução de problemas matemáticos e de controle: “verificamos que os discentes não tinham uma compreensão apropriada sobre como realizar o controle da própria aprendizagem. Esse é um indicativo importante de que a Universidade precisa criar mais iniciativas educativas que auxiliem os discentes na superação de limitações trazidas da Educação Básica”, disse o docente da UFCA.

A autonomia do(a) estudante no processo de aprendizado é um especial desafio em tempos de “distrações” de fácil acesso, oferecidas pelas tecnologias digitais do século 21. Além disso, há a questão recente da necessidade de distanciamento social exigida pelo contexto de pandemia. Mesmo com a superação da Covid-19, a expectativa é a de que a realidade de aulas remotas perdure, pelo menos em médio prazo: “Isso certamente está impactando na formação dos futuros professores [de Matemática] e demandando que habilidades que possibilitem aos discentes uma maior autonomia para controle de suas aprendizagens sejam postas em discussão, em diferentes componentes curriculares”, afirmou.

Essas agudas mudanças de conjuntura tornam o antigo modelo de transmissão e recepção de conhecimento, praticado no campo da Educação, ainda mais obsoleto; evidenciando a importância da reflexão crítica sobre o conteúdo a ser aprendido, a aplicabilidade prática dele e a autonomia do(a) estudante em construir o conhecimento: “dada a complexidade da ideia de aprender de forma autônoma, nossa pesquisa estudou uma das habilidades que a constitui: o controle da aprendizagem. Nesse sentido, a investigação aponta um caminho possível, à luz dos fundamentos advindos da Teoria Histórico-Cultural de L. S Vygotsky e de seus seguidores, para a formação de habilidades gerais, como controlar e resolver problemas matemáticos”, explica.

A Teoria Histórico-Cultural foi construída pelo psicólogo bielorrusso Lev Semionovitch Vygotsky, que identificou nas interações sociais um fator crítico para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores (comportamento consciente, ação proposital, capacidade de planejamento e pensamento abstrato).

“Embora o controle da resolução de problemas matemáticos seja uma das condições necessárias para o aprender a aprender na perspectiva do enfoque histórico-cultural, as pesquisas sobre o tema têm apontado deficiências na formação de professores, tanto na utilização dessa habilidade durante os processos de aprendizagem dos licenciandos, quanto nas práticas docentes desses profissionais em sala de aula”, diz o artigo, nas suas considerações finais. De acordo com os pesquisadores, estudos sobre a habilidade de controle da aprendizagem, no âmbito de diferentes níveis de Ensino, podem prover as condições necessária à assimilação do controle pelo(a) aprediz de Matemática.

Com informações do Inep

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