Com participação da UFCA, estudo de potencial antibacteriano de planta da Chapada do Araripe é publicado em um dos principais periódicos na área de Ciências Biológicas
Publicado em 07/10/2025. Atualizado em 08/10/2025 às 08h37

Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal do Cariri (UFCA) integraram um estudo que identificou, em uma espécie de planta frutífera nativa da Chapada do Araripe, potencial antibacteriano para combate de superbactérias.
Intitulado “Composição química, atividade antibiofilme e potencial antibacteriano in vitro e em um modelo de peixe-zebra de Myrciaria pilosa”, o estudo teve como objeto de pesquisa o óleo essencial extraído da planta Myrciaria pilosa, conhecida popularmente como cambuí.
A pesquisa investigou o potencial desse óleo essencial no combate a superbactérias de um grupo chamado Enterobacteriaceae. Encontradas no solo e na água, essas bactérias podem infectar humanos e outros animais.
Os resultados dessa pesquisa foram publicados no Journal of Ethnopharmacology: a revista oficial da Sociedade Internacional de Etnofarmacologia e o principal periódico mundial voltado à divulgação de pesquisas que buscam preencher lacunas entre o conhecimento popular e a validação científica.
O primeiro autor da pesquisa é o biólogo Rafael Pereira da Cruz, doutorando em ciências biológicas pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), sob orientação da professora Márcia Vanusa da Silva.
Na UFCA, os trabalhos foram conduzidos pelo Laboratório de Microbiologia Aplicada (Lamap), grupo de pesquisa vinculado à Faculdade de Medicina (Famed/UFCA). O Lamap é coordenado pela professora Jacqueline Andrade, do Instituto de Formação de Educadores (ver Participação da UFCA).
Além dos pesquisadores da instituição pernambucana e do grupo de pesquisa da UFCA, o estudo também teve a colaboração de docentes da Universidade Regional do Cariri (Urca). Na Urca, os estudos foram realizados pelos professores Henrique Douglas Melo Coutinho, Maria Flaviana Bezerra Morais Braga, José Weverton Almeida Bezerra e Irwin Rose Alencar de Menezes.
Cambuí
O cambuí é usado, na medicina popular, para tratar inflamações, cólicas, problemas bucais e outros distúrbios do trato digestório (como diarréias), além de atuar na cicatrização de pequenas feridas.
Como explica professora Jacqueline Cosmo, o primeiro autor do trabalho é natural da Serra Gravatá (em Jardim-CE) e sempre teve contato com essa espécie medicinal, o que despertou o interesse dele pelo estudo.
Além dos testes em laboratório (in vitro), o estudo também realizou testes em um peixe-zebra: organismo-modelo comumente usado em pesquisas para estudar doenças humanas.
Especificamente sobre a escolha do cambuí caririense, os estudos de Rafael demonstraram que, apesar de essa planta frutífera ocorrer em outras regiões do país, características da Chapada do Araripe como clima, solo, relevo e altitude (conhecidas como características edafoclimáticas) tornam os aspectos químicos do cambuí caririense distintos das demais regiões do país.
Participação da UFCA
Conforme Jacqueline Andrade, coube ao Lamap/UFCA realizar, com o óleo essencial do cambuí, os experimentos de inibição da formação de estruturas biológicas indesejadas e da erradicação de estruturas já existentes, chamadas de biofilmes (comunidades de microrganismos que se aderem a uma superfície).
“Os resultados desses ensaios demonstraram que o óleo [do cambuí] apresenta potencial para inibir a formação de biofilmes e romper biofilmes já estabelecidos, o que representa um avanço significativo, uma vez que a formação de biofilmes é um dos principais mecanismos de resistência em infecções bacterianas”, disse Jacqueline.
Ainda de acordo com Jacqueline, os achados indicam que os metabólitos (substâncias químicas produzidas, consumidas ou transformadas durante o metabolismo de um organismo vivo) do cambuí da Chapada do Araripe possuem potencial para futuras aplicações clínicas e para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas contra infecções bacterianas.
“Os resultados da pesquisa também reforçam a importância de aprofundar os estudos sobre a flora da Chapada do Araripe, fortalecendo parcerias da UFCA com outras instituições nacionais e destacando o valor de espécies nativas da região como fontes promissoras de substâncias medicinais naturais”, afirmou.
Serviço
Faculdade de Medicina
famed@ufca.edu.br