Em mais um conteúdo, série “Protagonismo Estudantil” narra experiências de egressos da UFCA em programas de Mobilidade Acadêmica

Publicado em 12/12/2022. Atualizado em 12/12/2022 às 15h36

Ikaro Ruan Penha, egresso do curso de Engenharia Civil da UFCA. Foto: Ikaro Ruan

Popularmente conhecida como “intercâmbio”, a chamada Mobilidade Acadêmica pode ser compreendida como um momento de troca cultural entre estudantes de um mesmo país ou de diversas partes do mundo. Por estarem em ambientes acadêmicos e culturais diferentes do habitual, estudantes que participam de programas de intercâmbio têm contato com um universo de novas possibilidades – sejam elas educacionais, profissionais ou socioculturais.

A série “Protagonismo Estudantil”, em publicação anterior, trouxe experiências de egressos da Universidade Federal do Cariri (UFCA) que participaram do Programa de Aprendizagem Prática (PAP) e como as atividades desenvolvidas por eles durante esse período contribuíram para suas carreiras profissionais. Neste novo conteúdo, por meio de vivências de egressos da UFCA que já participaram da Mobilidade Acadêmica, a série abordará as possibilidades em torno dos programas de intercâmbio disponíveis para estudantes matriculados na UFCA. 

“Voltei sabendo lidar melhor com as situações e conversar melhor”

Conhecer novas culturas, lugares e pessoas ao redor do mundo influencia diretamente na construção social e acadêmica de estudantes que participam de programas de Mobilidade Acadêmica. Wendell Bezerra é um dos exemplos de ex-intercambistas da UFCA que tiveram suas vidas transformadas após participarem dos editais de intercâmbio disponibilizados pela Universidade. Os caminhos de Wendell levaram ao intercâmbio por meio de sua participação, como bolsista, em projetos de Iniciação Científica (IC) na UFCA. Isso porque o hoje encerrado programa federal Ciências Sem Fronteiras (CsF), criado em julho de 2011 e descontinuado em 2014, tinha o objetivo de, a partir do intercâmbio de estudantes, expandir e internacionalizar a Ciência, a Tecnologia e a Inovação brasileiras.

Wendell se formou em Engenharia de Materiais pela UFCA em 2018. Foto: arquivo pessoal

Na UFCA, o CsF funcionava como uma das opções de intercâmbio para estudantes que, assim como Wendell, participavam de bolsas de pesquisas ligadas à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) ou ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) – entidades financiadoras do programa.

Como os projetos de IC dos quais Wendell participou estão ligados à Capes e ao CNPq, o então discente pôde concorrer a uma das vagas do CsF: “Havia uma seleção interna na UFCA pelo IRA [Índice de Rendimento Acadêmico] e pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Depois, os candidatos se cadastravam para seleção no sistema da Capes. Além disso, a UFCA também oferecia a prova de inglês, do Toelf ITP”, explicou Wendell, ao relembrar o processo seletivo para o CsF, realizado em 2015.

Selecionado, Wendell cursou parte de sua graduação na Faculdade de Engenharia vinculada à Universidade do Kentucky (UK), nos Estados Unidos, entre agosto de 2015 e maio de 2016. Conforme o estudante, o intercâmbio de nove meses nos EUA fez com que ele se abrisse mais para as relações interpessoais e rompesse as barreiras da timidez: “Eu nunca fui muito aberto para interações interpessoais. [Depois do intercâmbio], eu pude ver como as interações [sociais] são diferentes [a depender de qual cultura você está inserido], mesmo a americana sendo parecida com a brasileira. Então, voltei sabendo lidar melhor com as situações e conversar melhor”, afirmou.

Wendell é atualmente doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais, no Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro. Em 2022, Wendell retornou aos Estados Unidos para desenvolver parte de suas pesquisas de doutorado na Universidade da Califórnia, em San Diego (UCSD).

No doutorado, Wendell [à esquerda da imagem] concentra suas pesquisas na área de Materiais compósitos e Materiais biológicos estruturais. Foto: arquivo pessoal

Graças à sua primeira experiência anterior em solo estadunidense, ainda como estudante intercambista da UFCA, Wendell afirma que, em sua segunda ida aos EUA, o idioma não era mais um empecilho na construção de suas relações pessoais e acadêmicas. Ele conta que quase não teve contato com o Português. Durante os seis meses em que ficou na Califórnia para pesquisar, o doutorando relembra ainda que sua conexão com o inglês melhorou, não só em relação à fluência como também de forma sociocultural.

Mobilidade Acadêmica Nacional

Na raíz de seu significado, a palavra “intercâmbio” designa as relações culturais e comerciais entre nações. No âmbito acadêmico, no entanto, quando se refere à mobilidade acadêmica, essa troca cultural inerente ao conceito de intercâmbio também pode ser realizada por estudantes de um mesmo país. 

Na UFCA, quando há o interesse por parte dos estudantes em participar da Mobilidade Acadêmica Nacional, ou seja, cursar parte de sua graduação em outra universidade do Brasil, a Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFCA) é o setor responsável por essa demanda. É por meio da Prograd/UFCA que o estudante saberá, por exemplo, para quais instituições pode ir, em quais cursos pode ser recebido e por quanto tempo poderá permanecer em mobilidade acadêmica.

Com o objetivo de fomentar a mútua cooperação técnico-científica entre as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) e estimular o intercâmbio entre elas, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), criou o programa de Mobilidade Acadêmica. Como a UFCA faz parte da Andifes, as regras desse programa disciplinam as demandas de Mobilidade Acadêmica Nacional na Universidade.

Atualmente, a Universidade oferta a possibilidade de seus estudantes ingressarem como intercambistas em 66 das 73 instituições associadas à Andifes. Essas 66 instituições, bem como a UFCA, fazem parte do Convênio de Mobilidade Acadêmica Nacional firmado com a Andifes. A lista de Ifes parceiras que assinaram o convênio pode ser acessada no Portal da Andifes.

“Quando estou em uma roda de amigos, costumo dizer que eu fui uma menina e voltei do intercâmbio uma mulher”

Daysianne Mendes é formada em Engenharia de Materiais pela UFCA e teve a oportunidade de participar das duas opções de intercâmbio disponíveis na UFCA. Durante a mobilidade nacional, ela foi intercambista no curso de Engenharia Metalúrgica na Universidade Federal do Ceará (UFC), no ano de 2017. Daysianne, no entanto, relembra as experiências vividas por ela durante sua passagem pela Arizona State University, nos Estados Unidos.

Em 2014, Daysianne  participou da mobilidade acadêmica internacional também por meio do Ciências sem Fronteiras – que, na UFCA, era gerenciado pela Secretaria de Cooperação Internacional (SCI/UFCA). No tempo em que esteve no intercâmbio, Daysianne teve a oportunidade de aprender uma nova língua, aperfeiçoar o lado pessoal e o profissional, além de ampliar sua rede de contatos. 

Atualmente, Daysianne é doutoranda no Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foto: arquivo pessoal

“Com essa experiência, pude adquirir fluência em inglês, que, até então, eu não sabia nem o básico, aumentar minha network [rede de contatos], desenvolver não só o meu lado profissional, mas o pessoal também, ao viver situações adversas e conviver com diferentes culturas. O que mais me marcou foi ter aprendido inglês em um curto intervalo de tempo, o que, posteriormente, abriu muitas portas para mim”, disse.

Para além de aprender um novo idioma, Daysianne consegue visualizar em si diversas mudanças advindas de sua experiência como intercambista da UFCA nos EUA. Dentre essas mudanças, ela destaca a proatividade, a independência, a flexibilidade para lidar com pessoas culturalmente diferentes e a resiliência: “Quando estou em uma roda de amigos, costumo dizer que eu fui uma menina e voltei do intercâmbio uma mulher. Eu me tornei mais proativa, independente (já que eu tinha que fazer muitas coisas sozinha nos EUA), flexível (ao lidar com opiniões diferentes de pessoas com aspectos culturais diferentes) e resiliente (ao passar, inicialmente, por muita dificuldade na comunicação por não saber inglês)”.

Segundo Daysianne, ela se sentiu encorajada e esperançosa por estudar em uma das melhores universidades do mundo. Além disso, ela afirma ter percebido que o nível de conhecimento acadêmico nos Estados Unidos e no Brasil não é tão distante. 

Daysianne [sentada, à esquerda] durante visita à Universidade de Havard, nos Estados Unidos, em 2014. Foto: arquivo pessoal

Após as oportunidades profissionais e acadêmicas conquistadas por por influência de sua participação na mobilidade acadêmica, Daysianne destaca também a importância que o intercâmbio teve no fortalecimento de seus potenciais: “Acho que ter participado da mobilidade acadêmica fez-me crer que eu podia fazer o que eu quisesse e lutar para que isso acontecesse – se meu sonho fosse trabalhar em uma multinacional, seria possível; se eu quisesse fazer uma pós-graduação, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, também seria possível”, destacou a estudante.

“Foi com o intercâmbio que aprendi que seria possível, por mais que árduo, chegar até aqui”

Ikaro Ruan Penha é formado em Engenharia Civil pela UFCA. Ele também participou da mobilidade acadêmica internacional ofertada pela Universidade, por meio do Ciências sem Fronteiras. Entre os anos de 2014 e 2015, Ikaro estudou na Universidade do Kansas, nos Estados Unidos.

Ikaro Ruan é natural da cidade do Crato e mora atualmente no Canadá. Foto: arquivo pessoal

Ikaro ressalta que, durante esse período de mobilidade acadêmica internacional, o amadurecimento pessoal e profissional adquiridos por ele foram as coisas que mais se destacaram no processo de morar e estudar em outro país. O intercâmbio também o ajudou a decidir quais seriam seus próximos passos em relação à vida acadêmica: “[O intercâmbio] muito me marcou, [proporcionando] amadurecimento pessoal e profissional principalmente. Ter contato com novas culturas totalmente diferentes da sua e cada um se respeitando é um ponto forte a ser mencionado. Além disso, foi durante esse período que pude ter certeza de qual era o caminho que deveria ser trilhado: decidi seguir os passos da Ciências da Computação e da Matemática”.

Natural da cidade do Crato, atualmente, Ikaro vive no Canadá e é estudante de mestrado na Universidade de Manitoba, na área de Matemática Computacional e Numérica. Para chegar a essa fase de sua carreira acadêmica, além da influência do professor Vicente Helano – vinculado ao Centro de Ciência e Tecnologia (CCT/UFCA) – Ikaro enfatiza também a importância de ter participado do programa de Mobilidade Acadêmica Internacional gerenciado pela UFCA.

Ikaro Ruan em frente à residência universitária da Universidade do Kansas, em Lawrence (KS), Estados Unidos. Foto: arquivo SCI/UFCA

“Creio que tive duas grandes influências para estar hoje aqui. Uma delas foi o professor Vicente Helano, que me apresentou a área de Geometria Computacional – na qual trabalho hoje e que é bem forte no Canadá. A outra é que o intercâmbio me ensinou a ter uma mente mais aberta a oportunidades e a ser mais forte ao perseguir tais oportunidades. Foi com o intercâmbio que aprendi que seria possível, por mais que árduo, chegar até aqui”, relembrou.

Mobilidade Acadêmica Internacional 

A SCI/UFCA foi criada na UFCA para gerenciar os programas de Mobilidade Acadêmica Internacional – sejam eles mantidos por equipamentos de fomento do Governo Federal ou a partir de editais desenvolvidos no âmbito da própria Universidade. De acordo com o Manual do Intercambista, a SCI/UFCA proporciona informações de intercâmbio internacional aos estudantes matriculados na UFCA que querem ter experiências acadêmicas em instituições ao redor do mundo. Firmar convênios e acordos de cooperação com universidades estrangeiras também faz parte das atividades desenvolvidas por essa secretaria.

O atual secretário de cooperação internacional da UFCA, David Vieira, explica que participar do intercâmbio influencia diretamente na vida pessoal e acadêmica dos estudantes da UFCA: “Além de apresentar aos estudantes outra cultura, outra língua e outro modo de vida, a mobilidade [acadêmica] internacional faz com que eles tenham contato com pessoas de outros países, não somente daquele para o qual está indo. Por último, espera-se que sua experiência acadêmica durante a mobilidade internacional o proporcione uma maior inserção no mercado de trabalho tão logo conclua o seu curso na UFCA”, ressaltou.

Segundo David Vieira, o processo de admissão de estudantes da UFCA no programa de Mobilidade Acadêmica Internacional, no âmbito da UFCA, está condicionado à criação de editais específicos. Os estudantes que participam de editais da SCI/UFCA, contudo, dependem ainda da decisão final das instituições parceiras da UFCA que fazem uma consulta junto aos cursos pretendidos por esses estudantes para saber se os aprovam ou não. 

“Toda essa experiência do intercâmbio me constituiu e me constitui ainda hoje”

Para além das possibilidades no mercado de trabalho, as experiências do intercâmbio fortalecem, sobretudo, os caminhos acadêmicos dos ex-intercambistas da UFCA. Walisson Araújo, jornalista formado pela UFCA, é mais um desses exemplos. Depois de morar, trabalhar e estudar em outro país por cerca de um ano, Wallison afirma que voltou mais forte para continuar trilhando os caminhos do universo acadêmico. 

Walisson Araújo é atualmente mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Quando era estudante da UFCA, ele participou, por meio de um edital próprio da SCI/UFCA, da Mobilidade Acadêmica Internacional. 

Em 2018, Walisson foi intercambista da UFCA na Universidade do Algarve (UAlg), na cidade de Faro, em Portugal. Atualmente, a UFCA mantém acordos de Mobilidade Acadêmica Internacional com nove universidades em quatro países. São eles: Argentina (1), França (2), Portugal (5) e México (1). Esses acordos podem ser vistos com mais detalhes na aba “Internacional” no Portal da UFCA.  

Walisson conta, abaixo, que estudou durante um ano no curso de Ciências da Comunicação da UAlg, entre 2018 e 2019. De acordo com ele, as experiências vividas durante esses 12 meses em Portugal vão além dos muros da universidade, de modo que, a partir dessas vivências, ele ampliou seu repertório cultural:

Devido à pluralidade de experiências às quais o estudante é exposto quando participa de um programa de mobilidade acadêmica, segundo Walisson, o intercâmbio fez com que ele aprimorasse outros idiomas como o inglês, o espanhol e o francês. A partir das vivências de Walisson em um lugar novo e depois de compreender melhor a diferença de outras pessoas, a mobilidade acadêmica também modificou a concepção de maturidade que Walisson tinha – algo que ele afirma ter incorporado à sua bagagem sociocultural.

O jornalista destaca ainda que a construção de uma rede de afetos em Portugal contribuiu para que ele, após o término da mobilidade acadêmica, fortalecesse os laços afetivos com seus familiares e amigos aqui no Brasil também

Walisson relembra que três disciplinas cursadas durante o intercâmbio foram importantes para instigar o seu desejo de se manter no universo acadêmico e, futuramente, se tornar professor: “Falando um pouco de onde estou atualmente na pesquisa acadêmica, em um mestrado (…), três disciplinas foram muito importantes para isso: uma, de Metodologia Científica; outra, de Ética na Pesquisa Científica e uma terceira, de Arte Contemporânea, que justamente é um dos campos que eu disputo no campo da Comunicação e da Cultura. Toda essa experiência do intercâmbio me constituiu e me constitui ainda hoje”, recordou.

As reduções nos investimentos relacionados à Educação e à manutenção de programas como os de Mobilidade Acadêmica é um assunto que Walisson fez questão de mencionar. Quando ele participou do intercâmbio, por exemplo, não havia mais o “Ciência sem Fronteiras” para estudantes de graduação e ele teve que financiar todo o processo de mobilidade com recursos próprios. 

Vale ressaltar que, de acordo com as políticas de Mobilidade Acadêmica Internacional vigentes na SCI/UFCA, o estudante que ingressa no intercâmbio, por meio dos editais da secretaria, é responsável pelos recursos financeiros necessários para sua manutenção durante o período de Mobilidade. 

Nesse sentido, David Vieira afirma que os custos para realização de um intercâmbio, levando em consideração um período de quatro meses, podem chegar a R$ 30.000,00. Esse valor se refere ao processo para preparar documentação (passaporte, visto), passagens aéreas, viagens ao consulado do país de destino, seguro de vida/saúde. Depois da chegada ao país onde será realizado o intercâmbio, ainda há gastos como alojamento, transporte e alimentação.

Auxílio Mobilidade Acadêmica

Atenta aos altos custos desembolsados por estudantes que participam da Mobilidade Acadêmica Internacional, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae/UFCA) passou a oferecer, em 2022, um edital específico para amenizar esse problema. O edital do “Auxílio Mobilidade Acadêmica” beneficia, mediante auxílio financeiro, estudantes que já tenham conseguido, por meio dos editais da SCI/UFCA, permissão para cursarem parte de suas graduações em Instituições de Ensino em outros países.

Ledjane Sobrinho, atual pró-reitora de assuntos estudantis da Universidade, justifica que a criação do auxílio “Mobilidade Acadêmica” é importante para fortalecer ações de suporte social na formação dos estudantes da UFCA: “Em se tratando de Mobilidade Acadêmica Internacional, estudantes aprimoram seus conhecimentos nessa cadeia global, adquirindo mais conhecimentos técnicos, aprendendo novas culturas e aperfeiçoando ou desenvolvendo fluência em uma [nova] língua. Deste modo, é de suma importância para a formação da comunidade discente implementar ações de suporte dessa natureza”, explicou.

Serviço

Secretaria de Cooperação Internacional
sci@ufca.edu.brPró-Reitoria de Graduação
prograd@ufca.edu.br