Conheça os cursos de graduação da UFCA: Letras/Libras

Publicado em 23/09/2021. Atualizado em 13/09/2023 às 14h50

Estudantes e professores do curso de Letras/Libras em marcha pela Educação, em 2019. Juazeiro do Norte-CE. Foto: Acervo Curso de Letras/Libras.

Vagas: 40 anuais
Semestres: 9
Modalidade: Licenciatura
Campus: Juazeiro do Norte
Período: Integral (Vespertino/Noturno)

Atuar no Ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras), facilitar a aprendizagem da comunidade surda e relacionar o Ensino da Língua Portuguesa ao Ensino da Libras, de maneira inclusiva, são funções de profissionais formados em Letras/Libras. A Universidade Federal do Cariri (UFCA) oferta essa formação desde 2019, na modalidade licenciatura, em turno integral (tarde e noite), com 40 vagas anuais.

Os/As estudantes interessados/as em ingressar no curso de Letras/Libras da UFCA são selecionados/as por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), que usa a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como parâmetro classificatório. A UFCA oferta, desde o segundo semestre de 2017, cotas específicas para Pessoas com Deficiência.

Na UFCA, a licenciatura em Letras/Libras está vinculada ao Instituto Interdisciplinar de Sociedade, Cultura e Artes (IIsca) – uma das unidades acadêmicas da instituição. Os/As estudantes dessa graduação, no decorrer do curso, terão contato com 36 disciplinas obrigatórias, 19 disciplinas de conteúdo optativo, o Estágio Supervisionado e o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A carga horária total do curso é de 3.208 horas. As disciplinas optativas são ofertadas a partir do quarto semestre e os/as estudantes precisam cursar, no mínimo, cinco dessas disciplinas livres.

Aula ministrada no fim de 2019, pelo professor Lucas Romário (próximo à mesa, de camisa clara), reunindo duas turmas do curso de Letras/Libras da UFCA e, ainda, famílias surdas da região do Cariri. Foto: Acervo Curso de Letras/Libras

Os conteúdos presentes na grade curricular da graduação em Letras/Libras na UFCA estão divididos em três unidades curriculares: Fundamentos da Educação de surdos; Linguística da Libras e o Ensino de Libras e suas Literaturas. No total, são 12 salas de aula disponíveis para estudantes de Letras/Libras da UFCA – oito delas, no período noturno e quatro, no período vespertino (tarde). A Universidade disponibiliza ainda sete intérpretes/tradutores vinculados à Secretaria de Acessibilidade da UFCA, para auxiliar estudantes e professores/as surdos/as e ouvintes na compreensão dos componentes didáticos e na resolução de possíveis demandas da Instituição.  

Além da estrutura já existente no curso de Letras/Libras da UFCA, há ainda um projeto para a construção de um laboratório de Libras. De acordo com o coordenador do curso, Lucas Romário, o projeto está em fase de aquisição dos equipamentos necessários. O objetivo do  laboratório é facilitar o acesso da comunidade acadêmica da UFCA a conteúdos mais acessíveis: “O laboratório de Libras representa não somente a possibilidade de informações acessíveis para nossos/as alunos/as surdos/as, mas também para a comunidade acadêmica, com a produção de materiais em língua de sinais, que levará diferentes conhecimentos aos/às alunos/as do curso e à comunidade surda”, disse.

O professor Lucas Romário no lançamento do seu livro “Pedagogia Surda”, em agosto de 2018.

Em relação aos projetos vinculados ao curso, o Grupo de Pesquisas em Estudos Surdos e Estudos Culturais da Educação (Surdec) da UFCA desenvolve atualmente uma pesquisa sobre a Educação de surdos/as na pandemia. O grupo é liderado pelo professor Lucas Romário.

Mercado de trabalho

Os/as profissionais formados/as pela UFCA no curso de Letras/Libras têm a possibilidade de atuarem como docentes na Educação Básica, nos anos finais do Ensino Fundamental, no Ensino Médio e na Educação Superior.

Segundo o coordenador do curso, um mercado que absorve muito os/as licenciados/as em Letras/Libras é o de tradução e interpretação, levando em conta que a quantidade de cursos de bacharelado, que formam tradutores/as e intérpretes de Libras, ainda é muito baixa: “Assim, quando realizam cursos complementares e específicos, os/as licenciados/as fluentes em Libras podem atuar na área de tradução e interpretação, que é uma área carente de profissionais e, por isso, também muito promissora no Cariri e em todo o Brasil”, explicou Lucas Romário.

Aprovação do curso de Letras/Libras da UFCA, em 2016. Foto: Lícia Maia-Arquivo Dcom/UFCA

“A formação em Letras/Libras abre caminhos para que os/as alunos/as formados/as na UFCA desbravem não somente novos caminhos profissionais na nossa região, mas também contribuam com a comunidade surda na luta pela garantia dos seus direitos. A inclusão plena das pessoas surdas vai se dar apenas quando a língua de sinais for sensocomunizada”, complementa o docente da UFCA.

O curso de licenciatura em Letras/Libras da UFCA é pioneiro na Educação Superior no âmbito da região do Cariri cearense. Devido à localização da Universidade, essa graduação beneficia também cidades próximas da região do Cariri que não disponibilizam a habilitação em Libras e que ficam em estados vizinhos – como Paraíba, Pernambuco e Piauí. 

Flexibilização do Projeto Pedagógico

Na estruturação do Projeto Pedagógico de Curso (PPC) da licenciatura em Letras/Libras na UFCA, os seus elaboradores refletiram sobre a necessidade de o cumprimento dos componentes curriculares levar em consideração as particularidades de cada estudante, de forma a proporcionar aos discentes uma formação mais rica e direcionada. Com isso, buscando “quebrar” a ainda tradicional rigidez no cumprimento dos componentes curriculares de cursos de graduação, o PPC de Letras/Libras foi concebido sob observância de cinco aspectos para se atingir uma flexibilização do cumprimento do currículo, que são os seguintes:

  • Facultar opções de conhecimento e de atuação no mundo do trabalho;
  • Oportunizar o desenvolvimento de habilidades que propiciem o alcance de competência na atuação profissional;
  • Priorizar uma pedagogia centrada no desenvolvimento da autonomia do aluno;
  • Promover a articulação entre ensino, pesquisa, extensão e com programas de pós-graduação;
  • Propiciar a autonomia universitária através da responsabilização da definição do perfil profissional, carga horária, atividades curriculares básicas, complementares e de estágio pela Instituição de Ensino Superior
Festa Junina organizada pelo curso de Letras/Libras, em 2019. Foto: Acervo Curso de Letras/Libras

“Com isso, podemos propiciar uma formação interdisciplinar de nossos/as estudantes, fazendo com que tenham uma perspectiva ampla não só da Educação, mas da sociedade como um todo. A sociedade – por se apresentar múltipla, complexa e, ao mesmo tempo, singular –, requer profissionais com uma concepção de mundo panorâmica e sensível às diferenças, que transite por diversos fios da teia social”, afirma Lucas.

A Língua de Sinais no Brasil

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem suas origens na Língua de Sinais Francesa, graças ao empenho do neurologista e educador francês Ernest Huet (1822 – 1882). Em 1856, após convite do Imperador Dom Pedro II, Huet veio ao Brasil e deu início ao “Colégio Nacional para Surdos-Mudos”– primeira escola direcionada à Educação de surdos no país. Atualmente, a instituição recebe o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) exercendo, dentro da estrutura do Ministério da Educação (MEC), a função de subsidiar a formulação de políticas públicas voltadas aos surdos.

Segunda Semana de Libras realizado pelo curso na UFCA, em 2019. Foto: Dcom/UFCA

A Libras é reconhecida como método legal de comunicação no Brasil desde 2002, por meio da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que a regulariza como sistema linguístico de caráter visual/motor e com estrutura gramatical própria. Antes da Lei, explica Lucas Romário, as pessoas surdas naturalmente já se comunicavam e difundiam a sua língua, porém, não possuíam o mesmo reconhecimento que possuem hoje.

Oficina sobre “Aspectos da Semântica da Libras”, durante a Segunda Semana de Libras na UFCA, em 2019. Foto: Dcom/UFCA

“Isso fazia com que a exclusão fosse mais evidente, tendo em vista que sequer o reconhecimento do status de língua existia no âmbito social. O Ensino de Libras ocorria de forma bem mais restrita, na própria comunidade surda, nas associações de surdos/as, em escolas especializadas e em instituições com foco nesse grupo linguístico-cultural”, ressaltou o coordenador.

Nas escolas regulares e nas escolas de Ensino especial, antes da implementação da lei que reconheceu a Libras como meio de comunicação, a inclusão dos surdos deveria acontecer por meio apenas da oralidade – a linguagem falada, sem o uso da sinalização característica da Língua Brasileira de Sinais. Conforme ressalta o PPC da licenciatura em Letras/Libras da UFCA, esses/as estudantes tiveram um baixíssimo nível de competência na Língua Portuguesa escrita.

Dinâmica realizada entre estudantes do curso na Segunda Semana de Libras, em 2019. Foto: Dcom/UFCA

Estudantes do curso 

Finalizando o quarto semestre, a estudante Tereza Escariolano diz que, no início da graduação, teve um pouco de receio por não ter tido contato prévio com a comunidade surda antes de ingressar em Letras/Libras na UFCA. Após participar do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid/UFCA), porém, ela diz ter se apaixonado pela oportunidade de trabalhar com pessoas surdas. “Eu fui bolsista do Pibid em 2020/2021 e foi como bolsista Pibid que me apaixonei mais ainda pela Educação e pelo Ensino [da Libras]. Acho que realmente esse é meu lugar e espero que logo eu possa estar ensinando e colocando em prática meus aprendizados”, relata a estudante. 

Tereza no apresentando trabalho sobre Educação no Quarto Encontro Internacional de Trabalhos e Perspectivas de Formação dos Trabalhadores, em 2019.
Foto: arquivo pessoal

Também estudante do curso de Letras/Libras na UFCA, George Macedo cursa o quinto semestre da graduação. Abaixo, ele relata, em Libras, sua experiência no curso e manda um recado para as pessoas surdas que pensam em estudar na UFCA. O conteúdo é traduzido para o português pelo professor Lucas Romário:

“A Libras não é o Português sinalizado”

Professora do curso de Letras/Libras da UFCA, Ana Kelly Fernandes comenta sobre as mudanças conquistadas pela comunidade surda: “Dentre alguns avanços, eu posso citar o/a surdo/a matriculado/a no Ensino regular, tanto no Ensino Básico quanto nos cursos de graduação. Isso já é um avanço imenso e, inclusive, esse [avanço] seria a base para a comunidade surda progredir no quesito Educação”, reflete.

Professora Ana Kelly, no centro da imagem, no primeiro seminário de escrita da Língua de Sinais do Cariri, em 2018. Foto: arquivo pessoal

Mesmo com as conquistas da comunidade surda e do volume significativo de informações disponíveis sobre a Libras, ainda há pessoas que acreditam, erroneamente, que essa língua é apenas a Língua Portuguesa de forma sinalizada. Ana Kelly reforça as diferenças: “A primeira diferença entre a Libras e o Português, ou qualquer outra língua falada, é a modalidade. O Português e as demais línguas faladas são línguas orais; a Libras e outras línguas de sinais são espaço-visuais. Outra questão importante é a gramática: cada uma tem a sua. De maneira resumida, a Libras não é o Português sinalizado”. 

Serviço

Curso de Letras/Libras
letraslibras.iisca@ufca.edu.br